Jussara Lucena, escritora

Textos

Aos que ficam

Abri a janela. O céu estava azul. Respirei o mais profundo que pude e o ar limpo invadiu os meus pulmões. Senti toda a energia da natureza. Agradeci por aquele momento. Busquei na memória as imagens daqueles que mais queria e esperava que todos estivessem bem.
Repeti o ato, senti apenas o tubo que ocupava minha traqueia e a dor por não poder respirar sozinho. Não sei quanto tempo estou aqui. Só queria mais uma chance para fazer diferente. Olhar novamente nos olhos dos meus filhos, uma benção.
Ouço vozes, não entendo as palavras. Minhas mãos e pernas não obedecem. Ninguém ouve o meu apelo: preciso de ar!
Onde falhei? Como me contaminei? Eu não poderia deixar de atender, aquelas pessoas precisavam de mim. Eu jurei protegê-las.
Sempre encarei a morte com naturalidade, comemorei cada vida salva.
Espero que meus alunos aprendam e, numa próxima vez, saibam fazer melhor no combate ao inimigo invisível. Ouço um bipe contínuo. Dever ser o meu monitor cardíaco. Aos que ficam, saúde!


Texto selecionado no Concurso Poesia Urbana da UNIFEBE.

Adnelson Campos
26/03/2022

 

 

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