A Celebração do Livro

por Jacira Fagundes

São Paulo esteve em festa do dia 22 a 31 de agosto. O sedutor homenageado na 23ª Bienal Internacional do Livro mereceu todos os olhares instigantes e desejosos de parte de um público que se fez presente e se revezou diuturnamente. Habituada a nossa feira do livro de Porto Alegre, sucumbi à grandiosidade apresentada na Bienal, não só quanto a montanhas e montanhas de livros à disposição dos visitantes, mas especialmente quanto à movimentação quase frenética em torno deles. De 25 a 30, no miolo da festa, convivi com o frenesi. O espaço da Bienal era imenso, e conseguiu se apequenar ao abrigar as diferentes tribos: Caravanas de escolas públicas e particulares, escoltadas por professores atentos; Rodas de jovens estudantes espalhados por todos os cantos – de pé, sentados no piso, amontoados – acoplavam-se, na maioria das vezes, de forma a permitir alguma passagem dos estranhos à tribo; Pais, mães e avós - conduzidos por crianças apressadas, mãos ávidas querendo tocar, abrir, apropriar-se, levar para casa a magia gravada nos livros infantis ao seu alcance. Não podem todos lhes pertencer por qual razão? Por acaso existe razão que impeça uma criança de viver o encanto das histórias contidas nos livros? Através da inquietude expressa em seus rostinhos, dava para ler, eu comprometida com a mesma inquietude, os pensamentos dos pequenos. Homens e mulheres, maduros, idosos, na contramão de seus afazeres, suportavam filas heroicamente nos balcões e nos caixas – mais este, ainda este outro, mais um, não importa o peso. Livros, livros, livros. E depois deixavam os estandes às risadas, feito crianças carregando sonhos. Os estandes – numerosos - distribuídos em alamedas que iam do A ao N. Trafeguei pelas longas alamedas e a vontade era parar em cada um deles. Fora das tradicionais prateleiras, os livros se ofereciam em total liberdade à avidez do visitante. E para uns tantos editores e livreiros, houve ousadia na decoração ao criarem projetos artísticos com o objeto livro, que sugeriam pequenas esculturas, encaixes assimétricos e em desnível. Tudo muito bonito de ver. A acolhida a quem buscou uma informação, ou um contato com editores, foi sempre cortês, aberta e interessada. Uma comunicabilidade acessível, que primou pela delicadeza e confiança entre as partes. E gente que garantiu o brilho da feira: Gente que faz a ascensão do livro. Assisti a expoentes como Inês Pedrosa e Luiz Ruffato. Gente que conseguiu baratear o livro. E não foram poucos editores, distribuidores e livreiros, nem livros quaisquer. Livros de qualidade literária – publicações recentes, lindos, coloridos, capa dura. Poderia afirmar que uma grande parte da cidade respirou literatura nos dez dias do evento. Em períodos ininterruptos, transporte municipal gratuito foi disponibilizado à população. O povo respondeu disciplinadamente ao oferecimento da cidade, antegozando seus próprios momentos de celebração do livro. Filas imensas circundaram as calçadas em direção aos ônibus, que, após completarem a lotação, partiam rumo à feira, enquanto novos veículos já abriam suas portas. A cidade, a feira e a população sentem-se recompensadas. De volta ao rincão, eu me encontro bem-aventurada. Breve, muito breve, teremos a nossa 60ª Feira do Livro de Porto Alegre. Nem tão grandiosa ou talvez, nem tão festiva ou tão acolhedora como a 23ª Bienal Internacional do Livro. Claro, poderia oportunizar melhorias. Mas é a nossa feira, onde nosso povo de novo se deixará invadir pelo orgulho de ser gaúcho e poder celebrar o livro na já consagrada “maior feira do livro a céu aberto das Américas”. A propósito. Ali na praça, na ala infantil, eu estarei no dia 06 de novembro, às 17 horas, autografando “Um Garoto Bom pra Cachorro”. Uma modesta parcela contribuindo para a festa do livro.

 

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