O que presentear no dia delas?

por Jacira Fagundes

Tenho em mãos um daqueles catálogos que, já de algum tempo, vem recheando o jornal que recebo todas as manhãs.

Vem em formato de revista. Aprecio folhear, pela qualidade que apresenta. Da escolha do papel de que é feito às fotos e ilustrações, vê-se o rigor em termos de qualidade. Diferente de outros tantos, confeccionados com papel ordinário e figuras borradas. Porém, igualam-se quanto ao propósito: o assédio do comércio para a gama de ofertas que farão felizes nossas crianças, no dia dedicado a elas.

Feliz dia das crianças! é a frase que estampa as capas. Papais, mamães, avós, padrinhos e assemelhados, convencidos do dever de garantir aos pequenos a felicidade, via brinquedo novo, não irão se furtar. E cá estamos nós circulando entre os corredores, às tontas, diante da variedade de ofertas nas prateleiras. 

Engano. Não existe variedade. O que existe é uma grande quantidade do mesmo brinquedo, com pequenas variantes. Das bonecas princesas tiradas dos contos de fadas às monstrinhas, o que muda são os vestidinhos e alguns adereços – esta tem vestido longo com estampa floral, esta outra traz estrelinhas no rosto, esta daqui toca guitarra, aquela dali vem com uma maleta misteriosa. – Lindas, não? Nos pergunta a balconista que tivemos a sorte de encontrar, e que não ficará à nossa disposição por muito tempo.  

Dispensamos a moça e seguimos por outro corredor. Neste, tudo nos parece familiar. Réplicas de cozinhas  equipadas com fogão, geladeira, panelas. À parte, maquininhas de toda ordem, que lavam, trituram, misturam, fazem comidinha de brinquedo e até de verdade. Estojos de maquiagem, reloginhos, pulseirinhas, radinhos nas cores rosa choque, rosa claro, rosa bebê. Rosa, tudo rosa.

Adiante, a ala dos meninos: carros, carrões, bonecos transformers, réplicas de heróis, réplicas de armamento.

Os tempos são outros, a sociedade se transforma, e a indústria de brinquedos insiste na mesmice. Para gêneros diferentes, gostos e tendências diferentes – é a perspectiva rasa.

Os menorzinhos adoram os personagens dos desenhos do Discovery. Os adultos acompanham a diversão dos pequenos. E as lojas lotam prateleiras com Peppas, Galinhas Pintadinhas e Doras.   E ainda  mesinhas, cadeirinhas, mochinhos, bicicletas, estojos e bolas Peppas, Galinhas Pintadinhas e Doras. Um tanto de exagero, pensamos. Mas não ousamos expressar, já que foram criados para fazer felizes nossas crianças. Ainda mais no seu dia.

Demoramos  nas prateleiras dos jogos; é preciso ler as regras e indicações de faixa etária, nem sempre claras. Desencantados, devolvemos cada jogo ao seu lugar. Assim, com as dezenas de quebra-cabeças e de jogos de memória, que tornam a representar princesas e  monstras, mais Galinhas Pintadinhas,  mais Peppas, mais Doras, mais.

Claro, com paciência e boa vontade, sempre acabaremos por encontrar algo interessante. Foi sempre assim. E saímos satisfeitos.

Agora, se a exigência pela busca de algo que estimule, verdadeiramente, a curiosidade e a fantasia – estas preciosidades que residem nas mentes infantis – persistir, façamos com que um livro se junte ao brinquedo adquirido. As livrarias estão repletas deles – bonitos, coloridos, histórias de perto e de longe, de hoje e de muito antes, de gente e de bichos. A variedade que esperávamos encontrar na loja de brinquedos e não encontramos, está lá.

Nos  livros de histórias, a criança faz viagens extraordinárias por mundos desconhecidos. Ao explorar suas páginas, ela encontra a graça que a faz brincar de um jeito próprio – inusitado, criativo, livre e descontraído. E até mesmo criar brincadeiras para  o novo brinquedo.

Ah, e voltando ao catálogo que citei no início, uma última apreciação. No verso da capa, rodeadas por ursinhos de pelúcia, duas crianças tem a atenção focada na história de um livro aberto. Uma foto bonita de ver.

 

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