O Roberto Carlos e a Friboi

por Jacira Fagundes

A última campanha publicitária da Friboi está dando o que falar. Você encontra matéria em sites e blogs e ainda espalhadas no Face, críticas que vão das mais ofensivas às que só querem fazer graça. Todas elas direcionadas ao Rei.

O pessoal aproveita para curtir, deixar mensagens, compartilhar. Tudo em nome de uma causa que as pessoas julgam nobre – a coerência. 
Não conheço a intimidade do Rei, aprecio um bom número do seu repertório, me emociono com suas canções, seu sentimentalismo e até com o sorriso desajeitado que transmite nos intervalos das apresentações. Mas da intimidade, do que ele gosta ou não gosta, do que ama ou odeia, do que faz ou deixa de fazer, pouco sei. E tampouco me interessa a vida pessoal do Roberto artista. De qualquer artista.

Pois agora, devido aos tantos falatórios, tomei conhecimento de que Roberto Carlos seria adepto do vegetarianismo a coisa de 30 anos. Por tal razão é que os súditos do Rei o estão acusando – de se vender para a Friboi em troca de muito, mas muito dinheiro. 

O bombardeio que veio de todos os lados apregoa, em linguagem menos ou mais agressiva – a do cara (ele não é mais o cara para uns tantos) ter se bandeado para o outro lado, de ter incentivado a matança de animais em causa própria (hoje ele troca o prato de massa por um bife suculento, escorrendo sangue), de negar a postura da qual sempre o orgulhou de defensor dos animais ( lembram da canção “a baleia”?).

Num artigo de jornal, leio algo divergente. O autor do artigo afirma que o Rei nunca passou nem perto do vegetarianismo e sequer adotou seus princípios. Simpatizou, como muitos de nós. Só isso.

Portanto, ele que substitua o prato de massa pelo bife, quando bem entender. E ninguém tem nada a ver com isso.

Para mim, as primeiras acusações, ou a suposta defesa baseada no fato de que, em geral, os reis, digam o que digam, façam o que façam, não devem ser levados a sério, uma vez que estão nus, tanto faz. 

Afinal, o que me levou a este extenso comentário (perdão aos que lerem, não pretendia me estender tanto), é, no caso, desviar o foco para outro ângulo – do Roberto Carlos posando de garoto-propaganda.

Não vou querer alguém do calibre do Toni Ramos das propagandas anteriores. O cara é um ATOR, assim, em maiúsculo. Mas tem o Neymar, e até a Fátima (meio fora de tom, vá lá), que não fazem feio na telinha como garotos-propaganda. 

Prestem atenção na sequência da atuação do Rei. Do começo ao fim, o Roberto vai de mal a pior, acabando por expressar um sorriso extremamente forçado, mal feito, envergonhado de si mesmo naquela atuação ridícula.
Se os vegetarianos e veganos, e mesmo os carnívoros, estão voltados à cobrança de uma suposta ou idealizada coerência de parte do Rei (eu não o condenaria por tal falta com princípios, mesmo comprovado), abandonem por uma fração de minuto tal foco e tentem ver o pretenso ator no corpo do cantor. 

Eu o condeno por vender, em troca de um baú cheio de dinheiro que seja, uma atuação fraca, feia, equivocada e mal dirigida. 

Porque, afinal, o Rei é o Rei. E reis, para fazerem jus à coroa, precisam de gente com coragem de dirigi-los sabiamente para além das vaidades enganosas. Falhou o comando. 

“Canta, Roberto Carlos, compõe tuas canções e canta o que nos encanta!” O Rei merecia ter ouvido estas palavras, antes de se expor.

 

 

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