A arte e o artista em tempo soturno

por Jacira Fagundes

Estamos vivendo tempos de muita instabilidade. As medidas tomadas pelo poder estatal nos obrigam a aderir. São estranhas ao nosso cotidiano, mas é imprescindível que as executemos com a devida seriedade, porque é caso de saúde publica. Vai além, vai a extremos. Conta com nossa imparcialidade – é acatar ou adoecer, acatar ou morrer.

Esta é a saída encontrada para impedir o alastramento do vírus cruel que vem dizimando boa parte desta humanidade. Procedimento correto, mas que gera o medo e a desconfiança. Desconfiança que passamos a ter até mesmo nos gestos – no beijo, no abraço, no aperto de mãos.

O Estado rege o mundo de cada um, tira-nos o direito de ir e vir. Idem com o mundo do trabalho. Os que podem, passam a trabalhar de casa. Aos demais, que cumprem serviços, resta a exposição que pode contaminar a qualquer momento. A grande classe trabalhadora é a mais atingida em sua já rala economia.

A arte e os que lidam com ela, prestando serviço à cultura, num primeiro momento, acredito que tenham pensado em renunciar. Trocar o palco pela cozinha e fazer pães caseiros? Abandonar o canto, o atelier, a dança, o entretenimento, a fantasia, o sonho? Não só os músicos, os intérpretes, os ginastas, os malabaristas, os atores, os pintores, os mágicos e palhaços de circo. Não só eles, mas todos que, nos bastidores, trabalham com câmeras, áudios, sonoplastias, maquiagens e tudo mais.

E aí me dou conta de como a arte é criação em si mesma. Porque os artistas não se submetem a regras rígidas, à perda de sua liberdade de criar aqui e agora. E partem para a tomada da tecnologia em todos os setores. Músicos trouxeram as lives realizadas em casa com compartilhamento de plateia imensamente maior do que costumava acontecer nos palcos ou nos espaços abertos. Sem aglomeração? Os artistas responderam SIM! Sem pagamentos exorbitantes? Os artistas responderam SIM! As grandes empresas se posicionaram a favor e custearam as lives. E garantiram doações de outras empresas aos necessitados. É ou não é cabeça criadora de artistas?

No campo das artes visuais, as exposições virtuais vêm enchendo espaços e, talvez, para muitos espectadores, seja a primeira vez em que se abasteçam da cultura.

No campo da leitura, as compras online vêm, aos poucos, cobrindo os prejuízos dos livreiros. E, por chegarmos agora aos livros, o que estamos criando nós, os escritores, neste tempo soturno?

Recriando o mundo em nossos escritos literários. Reinventando nosso espaço de exposição como autores. Já lidávamos com o isolamento na hora de criação – computador para muitos, caderno e caneta para poucos. Foi preciso sair da intimidade do escritório em casa e reinventar o espaço de exposição. Então nos abrimos aos vídeos, com palestras, entrevistas, cursos diversos, contação de histórias e leituras dramáticas. Oficinas literárias online executadas em plataformas com compartilhamentos ilimitados e grande audiência viraram o cotidiano dos escritores.

Estamos todos, artistas e demais integrantes do mundo artístico, nas mostras e nos vídeos. Facebook, Intagram, e outras mídias nos recebem sem qualquer ônus. Somos gratos ao momento de encontro virtual com o público.

Se o povo leitor, ou o interessado em arte em geral, está nas mídias, as autoras da coletânea de contos do Grupo de Leitura e Criação Literária/ Jacira Fagundes, realizam o lançamento de seu livro “Quando o verbo vira trama” numa página do Facebook. Como diz Milton Nascimento na canção – “todo artista tem que ir aonde o povo está”. É lá que está o povo. É pra lá que vamos.

Nossos convidados nos têm prestigiado através de comentários, visualizações e curtidas. Começam a conhecer as autoras e suas produções. Tudo isto é motivo de aplausos. E fé e confiança de que vai passar...e dias de abraços voltarão.

 

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