O texto memorialista - a autobiografia

por Jacira Fagundes

Os textos voltados à memória, podem ser considerados literatura de ótima qualidade. Costumam retratar uma época vivida do passado até o presente, a partir de lembranças pessoais do autor, como personagem de uma história que se pretende real. Escrever e narrar suas memórias de um modo o mais próximo da realidade, buscando despertar emoções estéticas no leitor, procurando levá-lo a compartilhar lembranças de uma forma vívida, é o que faz da sua leitura, algo instigante. Para isso, seus autores usam a língua com liberdade, preferindo, às vezes, o sentido figurado, nem sempre totalmente aberto ao leitor. O próprio autor está capacitado a narrar suas memórias de um modo poético, literário, desde que busque um encontro emocionante com seu leitor. Que não só informe fatos relevantes do passado e do presente, mas em especial, consiga trazer o leitor para perto, fazendo com que tais momentos sejam interpretados artisticamente por ambos – autor e leitor.

O autor terá a capacidade de recuperar suas experiências de vida, verbalizando-as por meio de uma linguagem na qual ele, e apenas ele, é autoridade. Mais do que lembrar o passado em que viveu, o memorialista narra sua história, desdobrando-se em autor e narrador/personagem. Autores consagrados partiram, em dado momento de suas vidas, ao registro de suas memórias em livro. Revelaram-se como personagens reais em seus escritos, embora, por vezes, deixaram comparecer um tanto de ficção.

Nas memórias literárias, o que é narrado, não é a realidade exata. A realidade dá sustentação ao texto escrito, mas esse texto é constituído, também, por uma dose de invenção.

Tais escritos aproximam-se de textos históricos, uma vez que trazem a realidade vivida ao leitor. Além de acontecimentos, mostram as questões ambientais e sociais de uma época. De forma análoga, aproximam-se do romance pelo trabalho literário que tem o autor.

Vem a ser um jogo literário muito sutil. Além dos acontecimentos de uma época, traz um olhar de observador dos momentos narrados. O próprio detentor das memórias observa-se e se analisa. Aconteceu assim mesmo? Foi assim que ocorreu o fato? E, este mesmo olhar para si mesmo, o leva a acontecimentos recriados pelas lembranças dos outros. É quando descreve suas sensações e emoções narrando fatos dos quais ele é o centro entre os demais personagens. O autor fala de si mesmo pela voz dos personagens que evoca. O presente e o passado, e igualmente, o perto e o distante, são narrativas que trazem comparações entre épocas vividas.

A escolha inteligente de termos usados na escritura, a coerência, a relevância dos momentos abordados, a forma de escrita pessoal e intransferível, é que irão garantir aproximação entre autor e leitor da narrativa.

O valor de uma autobiografia é expresso pelos pequenos e grandes acontecimentos e situações que farão de um cotidiano – simples, modesto, rotineiro, triste ou alegre – uma história de vida extraordinária. Como a vida em geral, narrada ou não em livro, será sempre extraordinária.

 

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