Há muito o que se comemorar na pesquisa recém divulgada pelo IBGE: o crescimento do mercado cultural como um todo é notório e os investimentos públicos federais acompanham tal crescimento. Mesmo para os gaúchos, que vêem um Estado agonizante diminuir o investimento em cultura (isso que os dados são de 2005, imaginem os dados desse último ano!), a pesquisa é alentadora à medida que expõe a importância do investimento no setor, sob pena de ficarmos na contramão do país e perdermos o posto que tanto nos orgulha(va) de Estado da tradição, variedade e riqueza artísticas.
È preciso, porém, ir além dos números. Já diria um jornalista local, estatística é como biquíni, mostra tudo menos o essencial. E talvez o essencial seja perguntar de que forma estão sendo investidos esses recursos. Quem está se beneficiando, por exemplo, com a Lei Rouanet, ótimo instrumento e principal irrigador do mercado cultural brasileiro?
Naturalmente não temos respostas, mas basta lembrar a polêmica concessão de R$ 9,4 milhões para turnê do Cirque du Soleil de 2006 (concessão essa que, felizmente, segundo os organizadores da turnê de 2008 não voltou a acontecer) e a enormidade de shows com ingressos bem acima de R$ 100,00 (Chico Buarque, por exemplo) patrocinados pela Lei de Incentivo para percebermos que é preciso ir além dos números.
(Só como mais um exemplo e para mostrar que a questão não é só de âmbito Federal, edição recente de Carta Capital trouxe a polêmica envolvendo o maestro John Neschling, regente da Osesp, que receberia salaria superior ao maestro da Filarfômica de Berlim, pagos pelo Estado de São Paulo. Isso para não falar do Caso Jornada na LIC/RS.)
Talvez o que os artistas devam cobrar, a partir de agora, seja não tanto um aumento do investimento e sim uma facilitação no acesso a esses recursos. Grandes espetáculos, de grandes produtoras e para públicos de alto poder aquisitivo não deveriam ser priorizados, assim como não adianta promover Feiras, Bienais ou tantos eventos abertos, com milhares de público mas que trazem ao palco os mesmos e consagrados artistas de sempre.
Da forma como está posta hoje, a Lei é extremamente útil, mas privilegia grandes espetáculos e/ou grandes artistas e/ou grandes produtoras, se não pela burocracia que é se enviar um projeto (burocracia necessária no país do jeitinho), pela dificuldade de acesso às empresas que podem deduzir o investimento no Imposto de Renda. Avançar nessa questão seria um grande passo, um passo que talvez não apareça nas cifras das pesquisas macroeconômicas, mas que ajudará a colorir com mais nuances nossa multifacetada bandeira.
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