A imaginação da gente pode ir muito longe. Pode criar monstros, fantasmas, mudar tudo o que existe e inventar o que não existe.
A imaginação da gente pode inventar palavras, tentar nos convencer de que somos outra pessoa e até contar-nos as mais estranhas histórias, enquanto fazemos força pra pensar em outra coisa qualquer.
Não importa o caminho escolhido pela imaginação, o que importa é que ela seja cada vez maior e ocupe muito espaço na nossa fantasia, pra que a gente tenha pra onde correr na hora em que as coisas ficam sérias demais.
Pois bem, neste livro, somos informados da rotina de um urso que vive nos canos de um prédio. Subindo, descendo, nos horários mais variados. Pelos tubos de água quente, calefação, ar condicionado, tanto faz. Se o tubo é estreito, o pelo do urso serve como esfregão e limpa tudo. Se o tubo é largo, a correria do urso é só felicidade. Mas será que os moradores do prédio sabem da existência desse urso que vive escondido? Às vezes ele quase se deixa ver: enfia uma pata pela torneira, solta um grunhido na tubulação de gás, mete o nariz numa bica que ficou aberta, desliza fazendo barulho e provocando reclamações dos moradores. Mas o urso também se alegra com as noites de lua, quando é mais rápido do que nunca e atinge a chaminé num segundo. Lá em cima, ele adora tomar banho na caixa d’água e lavar o rosto com as patas. Mas acho mesmo que o que esse urso mais gosta é de espiar a solidão dos homens, para poder dar-lhes uma lambida no nariz, fazer-lhes uma carícia na bochecha... e depois... e depois...
Este não é um livro tradicional. Na realidade nem conta uma história. Conta uma série de ações praticadas por um urso que vive numa tubulação. E isso basta!
O texto é leve, divertido, ritmado, pensante, borbulhante, instigante e delirante. Imaginem vocês: o urso é vermelho, o prédio tem um estilo francês e as ilustrações são um show! Ah, e há um gato preto que ronda todos os passos do urso! E um ratinho enxerido!
O livro é amplo, as páginas têm cores fortes e bem contrastantes, os personagens são engraçados e beiram à caricatura. Tudo no tom exato!
É bom saber que esse texto é de um dos escritores mais festejados da literatura mundial: Júlio Cortázar. O texto não foi escrito para o leitor infantil e faz parte de um livro que foi publicado para adultos, que se chama “Histórias de cronópios e de famas”. Mas, aqui, com o texto dividido em pequenos blocos e com o tratamento dado, com o diálogo das ilustrações, ele se tornou um objeto fascinante e desejável. Esse novo direcionamento do texto tem a companhia do artista plástico espanho, Emilio Urberuaga e a tradução para o português de um grande e premiado escritor, chamado Leo Cunha. Tudo muito bem cuidado!
Esse delírio próprio do escritor, abrindo caminho através do fantástico, já poderia mesmo ter sido oferecido às crianças, de todas as idades! Quem é que vai resistir?
CORTÁZAR, Julio. Discurso do urso. Trad. Leo Cunha. Ilustrações de Emilio Urberuaga. Rio de Janeiro, Galerinha Record, 2009. 28 pp.
03/06/2010
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Comentários:
Amei o texto estou louca para ler a história.
Abraços adriana veiga, Cachoeirinha-RS10/06/2010 - 14:30
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