Vender livros em um país de não-leitores é uma tarefa árdua e, por vezes, muito ingrata. E tudo se torna ainda mais complicado quando o que se quer vender é um texto mais elaborado, com um tema menos óbvio e fácil - um livro que, enfim, fuja aos padrões daqueles que efetivamente vendem milhares de cópias no Brasil.
A tarefa de vender livros é dura por conta de toda uma engrenagem de mercado na qual se somam os custos elevados de produção, as dificuldades de distribuição e venda, as dificuldades por vezes impostas por algumas grandes livrarias e o difícil convencimento do leitor brasileiro para que adquira - e não copie - um livro de qualidade. Do preço final de capa, a fatia que cabe à editora é mínima, por vezes menor até que o valor pago aos autores. Nessa difícil matemática do mercado editorial, as editoras ditas comerciais precisam vender e, por isso, dependendo de sua filosofia e linha editorial, deixam de lado a qualidade e abraçam o apelo dos títulos mais populares para poder sobreviver.
Em meio a essa luta entre o mar dos leitores e o rochedo das grandes editoras, o escritor iniciante sente-se como o marisco que precisa se agarrar ao primeiro aceno de bondade para ver sua obra publicada. Nesse fiapo de esperança, muitas editoras pequenas vêem sua fonte de recursos - mas pouco funcionam como editoras no sentido clássico do termo. Muitas delas, a bem da verdade, agem como meros prestadores de serviço: o escritor novato, cheio de esperanças de futuro e urgência de publicar seus escritos - que, muitas vezes, são frutos de anos de trabalho dedicado -, submete-se a bancar parte ou a totalidade dos custos de publicação da obra; como fornecedora de serviços, interessada em ganhar dinheiro pela tarefa executada, a editora não faz ressalva alguma sobre o teor do texto, a capa, os detalhes de edição, fazendo tudo como o cliente preferir; como não há investimento dessas editoras na obra lançada, também não há qualquer esforço de divulgação ou mesmo de posicionamento do livro no mercado. Não raro o resultado são escritores publicados, sim, mas com centenas de cópias empacotadas em sua própria casa, sem recursos para distribuir e vender seus livros à espera de leitores.
Talvez o maior mal que tais editoras causem ao escritor iniciante seja justamente a falta de uma avaliação maior da obra. O papel do editor é, em verdade, o de trazer uma luz de realidade sobre a obra que o escritor acalentou com tanto carinho mas que, não raro, precisa de ajustes e do olhar distanciado de um profissional do mercado livreiro. O bom editor é, antes de tudo, um leitor voraz e um apaixonado por livros, que conhece bem o labor literário ao ponto de apontar caminhos ao invés de somente oferecer ao escritor uma carta de recusa pré-fabricada. Seu papel de "primeiro leitor" pode ser decisivo para transformar uma boa ideia em um livro de sucesso. Mas isso também significa que muitos escritores que submeterão seus trabalhos a essas editoras comerciais receberão um "não" como resposta - e aprender com as respostas negativas a um trabalho que nós, escritores, consideramos pronto é uma virtude difícil de conquistar.
Ao escritor iniciante, cabe a escolha: entregar sua obra às facilidades dos "prestadores de serviço" ou submeter-se ao escrutínio das editoras comerciais. O grande desafio, na primeira opção, é fazer o livro circular além dos limites de seu círculo de amigos e contatos; na segunda, é ter o controle necessário para compreender o que há por trás de cada avaliação de sua obra - que será, enfim, julgada não só pelo ponto de vista estético ou pela importância do tema escolhido, mas também por questões mais prosaicas que vão desde a sua possibilidade de vendas em um mercado editorial cada vez mais competitivo até às reais possibilidades financeiras daquela editora em assumir o seu projeto de publicação. De qualquer modo, é essencial, para quem sonha em um dia ser um escritor reconhecido, a humildade de saber que ninguém nasce um gênio.
Ótimo texto, Robertson. Para agregar, lembro de uma denominação utilizada pelo Umberto Eco para esses "prestadores de serviço": Vanity Press (Imprensa da Vaidade).
Abraços.
CP Cassio Pantaleoni, Porto Alegre/RS20/10/2010 - 22:45
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