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Literatura

A urgência de publicar e o papel do Editor
Robertson Frizero

Vender livros em um país de não-leitores é uma tarefa árdua e, por vezes, muito ingrata. E tudo se torna ainda mais complicado quando o que se quer vender é um texto mais elaborado, com um tema menos óbvio e fácil - um livro que, enfim, fuja aos padrões daqueles que efetivamente vendem milhares de cópias no Brasil.

A tarefa de vender livros é dura por conta de toda uma engrenagem de mercado na qual se somam os custos elevados de produção, as dificuldades de distribuição e venda, as dificuldades por vezes impostas por algumas grandes livrarias e o difícil convencimento do leitor brasileiro para que adquira - e não copie - um livro de qualidade. Do preço final de capa, a fatia que cabe à editora é mínima, por vezes menor até que o valor pago aos autores. Nessa difícil matemática do mercado editorial, as editoras ditas comerciais precisam vender e, por isso, dependendo de sua filosofia e linha editorial, deixam de lado a qualidade e abraçam o apelo dos títulos mais populares para poder sobreviver.

Em meio a essa luta entre o mar dos leitores e o rochedo das grandes editoras, o escritor iniciante sente-se como o marisco que precisa se agarrar ao primeiro aceno de bondade para ver sua obra publicada. Nesse fiapo de esperança, muitas editoras pequenas vêem sua fonte de recursos - mas pouco funcionam como editoras no sentido clássico do termo. Muitas delas, a bem da verdade, agem como meros prestadores de serviço: o escritor novato, cheio de esperanças de futuro e urgência de publicar seus escritos - que, muitas vezes, são frutos de anos de trabalho dedicado -, submete-se a bancar parte ou a totalidade dos custos de publicação da obra; como fornecedora de serviços, interessada em ganhar dinheiro pela tarefa executada, a editora não faz ressalva alguma sobre o teor do texto, a capa, os detalhes de edição, fazendo tudo como o cliente preferir; como não há investimento dessas editoras na obra lançada, também não há qualquer esforço de divulgação ou mesmo de posicionamento do livro no mercado. Não raro o resultado são escritores publicados, sim, mas com centenas de cópias empacotadas em sua própria casa, sem recursos para distribuir e vender seus livros à espera de leitores.

Talvez o maior mal que tais editoras causem ao escritor iniciante seja justamente a falta de uma avaliação maior da obra. O papel do editor é, em verdade, o de trazer uma luz de realidade sobre a obra que o escritor acalentou com tanto carinho mas que, não raro, precisa de ajustes e do olhar distanciado de um profissional do mercado livreiro. O bom editor é, antes de tudo, um leitor voraz e um apaixonado por livros, que conhece bem o labor literário ao ponto de apontar caminhos ao invés de somente oferecer ao escritor uma carta de recusa pré-fabricada. Seu papel de "primeiro leitor" pode ser decisivo para transformar uma boa ideia em um livro de sucesso. Mas isso também significa que muitos escritores que submeterão seus trabalhos a essas editoras comerciais receberão um "não" como resposta - e aprender com as respostas negativas a um trabalho que nós, escritores, consideramos pronto é uma virtude difícil de conquistar.

Ao escritor iniciante, cabe a escolha: entregar sua obra às facilidades dos "prestadores de serviço" ou submeter-se ao escrutínio das editoras comerciais. O grande desafio, na primeira opção, é fazer o livro circular além dos limites de seu círculo de amigos e contatos; na segunda, é ter o controle necessário para compreender o que há por trás de cada avaliação de sua obra - que será, enfim, julgada não só pelo ponto de vista estético ou pela importância do tema escolhido, mas também por questões mais prosaicas que vão desde a sua possibilidade de vendas em um mercado editorial cada vez mais competitivo até às reais possibilidades financeiras daquela editora em assumir o seu projeto de publicação. De qualquer modo, é essencial, para quem sonha em um dia ser um escritor reconhecido, a humildade de saber que ninguém nasce um gênio.


18/10/2010

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Comentários:

Texto muito verdadeiro.A questão é que mesmo o texto sendo bom,as editoras ignoram os autores e querem "estrelas" que sejam apelativas e vendam.Já vi muito lixo ser aceito,publicado e vendido como se fosse uma obra-prima e ninguém diz nada.E aqueles que trabalham sério,penam...Se morar no interior,então...
Cleber Pacheco, Esmeralda-RS 27/10/2010 - 19:25
Texto muito verdadeiro.A questão é que mesmo o texto sendo bom,as editoras ignoram os autores e querem "estrelas" que sejam apelativas e vendam.Já vi muito lixo ser aceito,publicado e vendido como se fosse uma obra-prima e ninguém diz nada.E aqueles que trabalham sério,penam...Se morar no interior,então...
Cleber Pacheco, Esmeralda-RS 27/10/2010 - 19:24
Muito coerente e pé no chão. Parabéns! Beeeeijos
Tatiana Pereira, Porto Alegre 27/10/2010 - 17:20
Ótimo texto, Robertson. Para agregar, lembro de uma denominação utilizada pelo Umberto Eco para esses "prestadores de serviço": Vanity Press (Imprensa da Vaidade). Abraços. CP
Cassio Pantaleoni, Porto Alegre/RS 20/10/2010 - 22:45

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  Robertson Frizero

Robertson Frizero é escritor, tradutor e professor de idiomas. Participou da Oficina de Criação Literária da PUCRS, sob a orientação do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, em 2007, ano em que começou a trabalhar com a professora e diretora teatral Graça Nunes na DRAN, a Oficina de Dramaturgia do Theatro São Pedro. Atualmente é gestor cultural da Editora 8INVERSO, para a qual já traduziu e organizou as obras "Dostoiévski - Correspondências (1838-1880)" e "Autobiografia de um Ex-Negro".

frizero@gmail.com
locutoriodofrizero.blogspot.com
twitter.com/frizero


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