MEIRELES, Cecília. Ou isto ou aquilo (7º ed.). Ilustrações de Odilon Moraes. São Paulo, Global, 2012. 66p.
Tarefa nem sempre fácil! O tempo todo estamos diante de situações em que precisamos fazer escolhas: o que vestir, o que comer, o que dizer, o que fazer... Não adianta! Mas, ao escolher um caminho, deixamos tantos outros para trás. Será?! O bom é que há escolhas que podem ser experimentadas e modificadas!
Este é um livro já clássico. Foi publicado pela primeira vez em 1964. E mesmo assim, atravessando o tempo, ele continua lindo e sem perder o vigor, a atualidade e o interesse.
Cecília Meireles, a autora dos 56 poemas que compõem este livro, habita com muita propriedade o universo infantil. Ela vê o cotidiano, mediado pela brincadeira (sempre sonora), capta as variações de humor e coloca a criança e a natureza em pé de igualdade. E aí, ficam esses dois grandes personagens correndo por todo o livro, até responderem pela metáfora maior da “criancice”: “ser veloz é ser feliz”, como ela mesma afirma, no poema “Para ir à lua”.
Além dos jogos de palavras, tão presentes na maioria dos poemas (como em “Tanta tinta”, “Rômulo rema”, “A folha na festa”, etc.) o livro faz também um apelo à luz e às cores (como em “Colar de Carolina”), sem, contudo abrir mão do olhar sensível para o mundo (como no poema “Pescaria”) e sem deixar de registrar as birras e os emburramentos (como em “Moda da menina trombuda”). As rimas - trabalho permanente da autora - são simples, mas carregadas de sonoridades, que transformam quase que imediatamente, o poema em cantiga, como em “Jogo de bola”, em “As meninas” e tantos outros.
E se a criançada ainda não sabe, vai poder saborear palavras não mais tão usuais como peliça, airosa, carpir, oblongo, giesta, etc. que dão graça no dizer e força no saber; além das pequenas histórias, como as esboçadas nos poemas “Sonho de Olga”, “As duas velhinhas”, “Os pescadores e suas filhas”.
Mas não é só! A diversão se completa com “O menino dos ff e rr”, “ O mosquito escreve”, “A língua do nhem”, “O eco”, “A chácara do Chico Bolacha”. Os personagens inventados e as sensações (o silêncio, o frio, o sombrio, as cores do amanhecer, o vento que arrasta as flores, etc.) reforçam as levezas da infância (que também estão situadas no território do sonho, da água, dos pequenos animais e dos anjos), mas também sublinham o rural e o urbano (como em “O último andar”) e as invencionices da fantasia (como a sombrinha de teia de aranha e a flor que sonha, do poema “O sonho e a fronha”).
Cecília virou sinônimo da melhor poesia feita para as crianças. E acabou servindo de modelo (em assuntos e modos de composição) para muitos outros escritores que depois dela, fizeram da poesia infantil o seu exercício maior de escrita.
Esta nova edição tem como base a edição organizada pelo poeta Walmir Ayala, em 1990, trazendo inclusive o texto que ele escreveu na época, para apresentar a 5º edição do livro.
A maior conquista desta sétima edição é o novo tratamento gráfico e as ilustrações aquareladas de Odilon Moraes. O ilustrador oscilando entre os tons de verdes, azuis, marrons e brancos nos fundos de páginas, consegue instaurar principalmente a atmosfera de sonho e leveza, tão especiais para a voz poética de Cecília Meireles. É para ler, reler, cantar e voltar lá muitas outras vezes!
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