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Livro: artigo de luxo
Cláudia de Villar

Embora o número de leitores possa ter aumentado (fato embasado em redes sociais e bate-papo informal), ainda há muito que percorrer até que possamos dizer que o Brasil é uma pátria de leitores. Há muito preconceito ao que diz respeito à Literatura.

Infelizmente, as coisas não mudaram tanto assim e o livro ainda é um artigo de luxo. Exemplo disso nós podemos ver nas telenovelas, pois quando querem dar um ar intelectual a uma personagem, mostrar que se trata de alguém culto o que ocorre? Colocam um livro nas mãos do ator.

Quando entrevistam um escritor, um jornalista ou qualquer que seja a criatura ao qual se pretenda dar a ela um ar introspectivo e “superior”, o cenário é quase sempre o mesmo: uma biblioteca, que pode ser na casa da criatura, ou colocam o entrevistado às voltas a um montão de livros.

E esse fato tem o seu pontapé inicial lá na escola, quando a criança começa a trilhar o seu caminho pela educação formal. O que falam para o cidadão mirim? “Vamos para a escola aprender bastante. Você vai ser gente!” E mostram ao aluno que para ser gente tem que ler e escrever. Jogam no estudante sem dó e sem piedade uma pilha de livros e a obrigação da leitura para que ele se torne gente! Ficamos, todos nós, com a triste impressão de que o livro é o passaporte caro ao qual temos que engolir goela abaixo para nos tornarmos cidadãos úteis para a sociedade.

Não há dúvida de quem a leitura, assim como a escrita, abremas portas para os indivíduos. Porém, o que está em discussão aqui não é a importância da leitura, mas o triste fato em transformar esse ato libertador e democrático em algo que faça parte apenas da elite. Como se ler livros fosse privilégio de alguns.

O erro, se é que se pode de chamar de erro, começa quando a leitura é algo que ocorre, principalmente e na maioria das vezes, nas escolas. Quando a criança passa a ter o convívio com o livro apenas nas escolas, a visão que ela terá será a de que a leitura de livros ocorre apenas nesses meios didáticos, meios formais, onde habitam professores, gestores, ou seja, indivíduos civis que representam uma ala formal da sociedade, uma ala ao qual a família dela está excluída. E, a partir daí, o livro passa a fazer parte apenas de um momento de sua vida. A convivência com escritores e feiras de livros, assim como sessões de autógrafos faz parte de um evento formal da escola. Quando o ano letivo acaba, poucos são os alunos que veem na leitura uma diversão de férias. E pior, quando terminam o ciclo estudantil, muitas vezes abandonando o ensino sem nem mesmo completar o Ensino Fundamental, a leitura passa a fazer parte de um passado chato.

Algumas escolas, felizmente, estão levando escritores para dentro de seus prédios com o intuito de estabelecer uma comunicação mais franca e aberta entre alunos e autores. Porém, infelizmente, embora esse evento seja até bem visto pelos alunos, muitos ainda veem nesse encontro um momento em que eles não terão aula dentro da sala de aula. Quase como se fosse o momento de “matar aula”. Agora, trazemos a pergunta: Por que os pais muitas vezes não são convidados para esse encontro? Por que não transformar esse evento em algo legal para toda a família? Por que deixar a impressão de que o encontro entre o escritor e os alunos faz parte do “currículo” escolar, algo que vale nota e, em contrapartida, faz um “barulho” daqueles nos festejos de Festa Junina ou qualquer outra comemoração? Nesses outros encontros, ao qual o livro não está presente, os pais e toda a comunidade escolar são convocados a participar! Dessa forma, reforça a impressão que o aluno já tinha, ou seja, livro e escritor éparte de uma ala da sociedade civil. Invés de aproximar, a escola afasta. E, dessa forma, forma-se o conceito de que livro não faz parte das ações legais entre as pessoas.

Sendo assim, o livro continua sendo visto, por algumas pessoas, como um artigo de luxo. Quem lê, quem frequenta livrarias, sessões de autógrafos são os que estão numa classe social mais alta. Ler não é coisa para o “povo”. E a compra de um livro é vista como supérfluo. E quem “gasta” com supérfluo são aqueles com poder aquisitivo melhor.

Então, quem lê? Quem são os leitores que engrossam as pesquisas realizadas as quais dão o resultado de que o Brasil está lendo mais? Talvez não haja o surgimento de novos leitores, talvez sejam apenas os mesmos leitores de sempre que estão lendo mais livros.

O importante nisso tudo é que aconteça de uma vez por toda a desvinculação entre livro e luxo. Há que ocorrer, principalmente por parte das escolas e governo, uma aproximação da família com a leitura e não apenas do educando e o autor. O livro tem que ser visto como algo prazeroso, ao qual pai, mãe, irmãos e familiares façam questão de ter em mãos uma obra literária e não apenas leiam para seus filhos por que foi uma tarefa de casa!

Por fim, a célebre frase: Educa-se pelo exemplo, tem vez e voz cada vez mais. Quais são os exemplos de leitores que temos hoje em dia? Intelectuais, professores, gente formal sem água e sem sal? Livro não faz parte da elite, livro não é luxo. Livro é liberdade!

Sendo assim, quem sabe, quando tanto as escolas quanto o governo transformarem o ato de ler algo tão agradável e tão comum como ir ao show de um cantor do momento esse objeto tão “luxuoso” possa fazer parte da vida dos brasileiros sem ter aquele estigma de que ler é luxo? E que, enfim, as pessoas descubram que ler é para todos!


09/02/2015

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  Cláudia de Villar

Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui doze livros publicados, sendo dez para o público infanto-juvenil e dois para adultos: Eu também... (Alcance, 2005, infantil), Bola, sacola e escola (Manas, 2009, infantil), Zé Trelelé no Gre-Nal (Manas, 2010, infantil), Uma foca na Copa (Manas, 2010, infantil), Meu Primeiro Amor (Manas, 2011, infantil), Aprendendo a viver e ensinando a sonhar (Manas, 2012, adulto), Rambo, um peixe no fandango (Manas, 2013, infantojuvenil), Mano e a boneca de pano (Manas, 2013, infanto-juvenil, O Mistério do Vento Negro, volumes I e II(Imprensa Livre, 2014-2015, juvenil), Um Continho de Natal(Metamorfose, 2016) e o lançamento de 2018: Histórias para ler no Intervalo ( Metamorfose, 2018). Participou de três antologias, Brasil Poeta (Alcance, 2005), Casa do Poeta Rio-Grandense (Alcance, 2005) e Mercopoema (Alcance, 2005) e uma coletânea de contos, Metamorfoses (Metamorfose, 2016). Além do curso de Magistério, Cláudia é graduada em Letras, especialista em Pedagogia Gestora e Supervisão Escolar. Atua no meio educacional também como mediadora de leitura e, como jornalista colaboradora, a escritora é colunista do Jornal de Viamão/RS, bem como escreve para o portal Artistas Gaúchos, Homo Literatus e Almanaque Literário.

claudiadevillar@yahoo.com.br
www.claudiadevillar.com.br
www.facebook.com/claudia.devillar


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