No final, a vida é quem ganha.
Em um quarto de hospital, normalmente o que se absorve, são as angústias e o clima de iminente tensão. No quarto de Carter, Morgan Freeman, nada disso era novidade, ou então motivo para gerar bom humor. Até que Edward, Jack Nicholson, entra em cena, ou seja, em maca. Rapidamente Edward descobre que sua doença o consome rapidamente, e em meio a isso, Carter passa a trocar farpas amistosas, com o novo companheiro debilitado de quarto.
Conservador, perseverante e “aspirante” a historiador, Carter e sua família são tementes e crentes a Deus. Diferentemente de Edward, boêmio, incrédulo, indiferente. Um, dono do próprio hospital onde se encontra internado. Outro, mecânico aposentado. Não demorou para que, com um rápido lampejo em listar algumas “tarefas“ para realizar antes de “pendurar as botas”, Carter repentinamente ocasionasse algumas aventureiras ideias ao mais novo amigo, o bilionário Edward. O próximo passo: viver intensamente e aproveitar seus últimos momentos, antes de partirem.
“Antes de Partir” nos leva a um plano onde a vida se encontra entre os dedos de dois enfermos, insistentes e sonhadores senhores. De um lado, recursos financeiros ilimitados e uma vida regada a satisfações e soluções imediatas. Do outro, uma vida desgastada e combalida com o tempo de dedicação, seja com a família, com o trabalho, ou com os planos frustrados.
Uma viagem que nos leva a admirarmos o fato da existência, e a realidade de estar pleno em busca de concretização de todas as necessidades. Sendo já avançados de dias, ou jovens entusiastas, a vida se equivale a planos e aventuras mirabolantes? Talvez. Para uns, certamente. Para outros, nem tanto. Uma vez que um passeio de motocicleta dentre a Muralha da China, saltos de paraquedas, longas viagens de jatinho, ou quaisquer opções sofisticadas e abundantes da culinária são momentos, deslumbres. Enquanto acordar todos os dias ao lado da pessoa escolhida para amar, beijá-la lentamente, abraçar os filhos antes do colégio, saciar a sede de atenção, muitas vezes, daqueles que estão bem próximos de nós, significam aproveitar a vida, o tempo. Maravilhar-se com o agora, com o hoje. Nada é possível sem que se envolva a tudo, a prática do perdão, da dádiva de um aconselhamento, dos invencíveis gestos de amor. No início e no meio, quem ganham são os próprios praticantes do equilíbrio e quem está a sua volta. No fim, quem arremata os legados, é a própria vida; continuando assim, ressurgindo toda a realidade que se fez essência, que se propôs profunda; em todo terreno fértil, onde pudesse haver esterilidade de pensamento.
O resultado para todos é sempre o mesmo: o chão. Contudo, a nossa multiplicação poderá continuar, contanto que, antes de partirmos, tenhamos cuidado com o regar das intenções de nossos corações. E é aí que a memória viverá nas alturas do que se é real.
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