Hoje, quinta-feira, dia 9 de junho de 2016, estive numa escola estadual para dar minha contribuição como oficineira e contadora de histórias. Encontrei uma escola abandonada...sim literalmente abandonada aos ratos...e aos três valentes e deprimidos alunos que lá estavam: dois garotos e uma garota. Não havia clima para nada, muito menos para a arte de contar histórias. Os corredores sujos, um cachorro abandonado transitando nas salas de aula, a cozinha com louça por lavar, tudo imensamente imundo e abandonado.
Foi o cenário mais triste, o desta escola, que já encontrei na minha vida como professora e como aluna. E aqueles corredores escuros e sujos, me lembraram da frase de uma colega, que estando por se aposentar e sem a mínima vontade de preparar aulas, me disse: “eu não estou nem aí, e eles não estão nem aí.” Sim, a frase de uma antiga professora da escola pública, resume todo o quadro de desleixo com o ensino neste país.
Talvez eu seja uma pessoa cujo gosto pela utopia ainda não se esvaiu de todo...Na ocasião em que escutei a célebre frase da tal colega, provei a ela que era possível fazer com que os alunos se engajassem na aula de português. Ao final de dois meses dando aulas para a turma “Que não está nem aí”, recebi uma homenagem dos alunos, e mais que isso: um abaixo assinado percorreu a escola para que eu ficasse lá dando aulas. Como eu era na época, uma simples estagiária, do curso de Letras da UFRGS e não havia feito concurso para o Estado, evidentemente, não pude assumir este compromisso.
Mas penso que lecionar é uma entrega e você tem de estar pronto para isso. Lecionar é como amar: é uma doação incondicional, independente se o outro vai saber retribuir ou não o seu empenho, o seu amor por ele. Escolas deveriam ser tratadas com amor, como são tratados os templos de consumo: os shoppings do país. Mas infelizmente o que temos hoje é um desmanche contínuo e sistemático do ensino. Que amor há no abandono, na falta de condições de higiene, na falta de condições materiais, dentro de uma escola? Que amor há no pagamento de um salário miserável para os profissionais da educação? Que amor existe e resiste na indiferença com que o governo trata os licenciados, os cursos de pedagogia, os professores de todos os níveis? Faço aqui meu protesto, como professora e como aluna do Ensino Público neste país. É preciso mais amor para com a educação. É preciso mais incentivo e mais verba para que possamos construir um país de verdadeiros cidadãos. Um país de pessoas que pensam e têm senso crítico. A continuar o desmanche do ensino público, em breve teremos os jovens como hordas de bárbaros: matando, roubando, estuprando...e ninguém e nada para contê-los. Temos de pensar seriamente que Brasil queremos para os próximos dez, vinte, trinta anos...
Estamos todos no mesmo barco, desestimulando os jovens e as crianças, tolhindo o futuro de uma multidão. Se não oferecermos uma chance a eles através de educação e orientação, através de bons cursos profissionalizantes e bons cursos superiores, através de ensino fundamental e médio com qualidade, amanhã não poderemos reclamar da silenciosa e terrível horda de bárbaros entre nós, da silenciosa e terrível guerra entre irmãos, pois teremos sim, nossa parte nisso tudo, através da omissão. Por isso eu escrevo, por isso eu grito: para que pelo menos uma voz se levante junto à minha, e sejamos muitas vozes, num único coro, pedindo, exigindo, educação com E maiúsculo para que nosso país possa um dia, dizer: olá, Futuro!
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