Por onde começar?
Claudia de Villar
O começo de tudo é complicado. Começar a andar, falar, desenhar, correr, andar de bicicleta, a primeira aula de direção, então? E como começar um namoro? Bah, exige força de vontade e coragem para poder enfrentar um não como resposta. Desta forma, deste mesmo jeitinho, também é complicado começar a escrever. Seja uma redação, um bilhete ou um livro. Pois tudo isto exige do produtor textual desejo, atitude, determinação, coragem e loucura.
Primeiramente tem que existir o real desejo. Porque não basta ter a vontade. Pois a vontade passa com as primeiras rabiscadas ou depois das primeiras tecladas. Entretanto, o desejo vai além da vontade. Desejar é algo que vem de dentro do ser. É quase biológico. Quem deseja persegue a sua meta. Não desiste nas primeiras linhas ou nos dez parágrafos seguintes.
Porém, tem que haver o primeiro passo, a ação de começar. Tem que existir o primeiro rabisco. O desejo impulsiona o ser escritor para os rabiscos iniciais. A vontade faz rabiscar um bilhete, o desejo faz escrever uma carta. A vontade faz a criatura tomar um sorvete. O desejo pede logo uma banana Split e a devora sozinho. Não se importa em se lambuzar. O escritor que deseja quer transferir para o papel em branco todo o seu desejo de escrever. Para escrever tem que ter atitude!
Mas é necessário ter determinação para continuar. Afinal, não somente de flores vive o jardim. Os espinhos fazem parte da arte de escrever. O desejo não deve fechar os olhos para os espinhos que surgirem, mas é primordial que a atitude se faça presente para seguir em frente. Saber peneirar. De um lado estão as opiniões e de outro as crÃticas. As opiniões, muitas vezes magoam nossos desejos, assim como as crÃticas. Contudo, as opiniões partem de pessoas não têm a obrigação de ser um leitor assÃduo, pode ser um leitor casual ou que não curte o seu estilo de escrever e que decidiu expressar a sua opinião. Diferentemente do crÃtico que, geralmente, é um ser leitor. Leitor de carteirinha. Mais que isto, um leitor da escrita pura e das regras que envolvem a produção textual. Sendo assim, a determinação em ler, peneirar, tirar proveito das boas crÃticas, daquelas que fazem tua produção escrita, se aprimorar, deve prevalecer. Em contrapartida, as opiniões devem ser bem recebidas, lidas e vistas como um afago no ego ou uma paulada na cabeça. A paulada dói, mas passa.
Contudo, certamente as pauladas podem deixar marcas. O tal “galo” na cabeça pode se transformar em bloqueio na hora de escrever. Neste momento deve-se ter coragem para seguir em frente. Sabe aquela parte da música: “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”? Pois é... Bem assim. Esquece a paulada, abrace os afagos, mas mire nas crÃticas construtivas. Elas fazem mais do que construir novos horizontes para a tua prática escrita, ela fornece um leque de novos conceitos, novos olhares e possibilidades.
Por fim, não poderia deixar de falar da amada loucura. Quem não escreve por loucura não transmite a sua aura. Todo ato de escrever é um ato desvairado de quere ser. Todo louco almeja ser. Ninguém quer ficar trancafiado nas correntes ou nas camisas de força. Quem é aprisionado não consegue ser nada.Todo escritor tem que ser louco! Afinal, somente um louco botaria à prova seu jeito pessoal de ver, interpretar, julgar, pensar, criar, inventar e sonhar acerca da vida pessoal, alheia e do universo. Vida longa aos loucos escritores!
23/01/2018
Comentários:
Delicioso! Vou imprimir e ler para todos que fazem parte da minha vida!
Parabéns, Cláudia!
LARISSA , Porto Alegre 27/03/2018 - 11:40
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Cláudia de Villar
Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui doze livros publicados, sendo dez para o público infanto-juvenil e dois para adultos: Eu também... (Alcance, 2005, infantil), Bola, sacola e escola (Manas, 2009, infantil), Zé Trelelé no Gre-Nal (Manas, 2010, infantil), Uma foca na Copa (Manas, 2010, infantil), Meu Primeiro Amor (Manas, 2011, infantil), Aprendendo a viver e ensinando a sonhar (Manas, 2012, adulto), Rambo, um peixe no fandango (Manas, 2013, infantojuvenil), Mano e a boneca de pano (Manas, 2013, infanto-juvenil, O Mistério do Vento Negro, volumes I e II(Imprensa Livre, 2014-2015, juvenil), Um Continho de Natal(Metamorfose, 2016) e o lançamento de 2018: Histórias para ler no Intervalo ( Metamorfose, 2018). Participou de três antologias, Brasil Poeta (Alcance, 2005), Casa do Poeta Rio-Grandense (Alcance, 2005) e Mercopoema (Alcance, 2005) e uma coletânea de contos, Metamorfoses (Metamorfose, 2016). Além do curso de Magistério, Cláudia é graduada em Letras, especialista em Pedagogia Gestora e Supervisão Escolar. Atua no meio educacional também como mediadora de leitura e, como jornalista colaboradora, a escritora é colunista do Jornal de Viamão/RS, bem como escreve para o portal Artistas Gaúchos, Homo Literatus e Almanaque Literário.
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