Escrita
Apagão Literário
Cláudia de Villar
Há quem diga que o escrever é um ato solitário, outros são da opinião de que a produção escrita é feita de inspirações diárias, de fatos vividos ou observados. Enfim, para alguns escritores ou aspirantes, a escrita pode ser um ato de fácil execução, enquanto outros vivem superando momentos de total falta de “inspiração”, vivendo um quadro de bloqueio de escrita.
A discussão sobre esse tema pode render muitas possibilidades de respostas sobre o porquê do apagão literário. Entretanto, esse apagão, diferente do branco que surge na produção (ou a falta de produção) literária, nem sempre é por conta do não saber escolher um assunto a ser desenvolvido numa prosa ou numa poesia ou por não ter ideias criativas, mas pelo fato do excesso de vazio que surge. Esse excesso de vazio corrói o escritor.
O apagão literário pode ocorrer após uma publicação de um livro muito elogiado – então surge o medo de não corresponder às expectativas dos leitores numa nova publicação – ou pode surgir após um lançamento mal sucedido ou também, após um problema pessoal grave (gerando o estágio: UTI Literário).
Por fim, o pior dos apagões literários não é o não saber o que escrever, mas o não ter vontade de escrever e entre o não saber e o não querer há um enorme corredor hospitalar. O sentimento de grande vazio só não é maior do que o medo imensurável de não mais querer escrever. Esse estágio seria a depressão literária. Como fugir dessa UTI Literária? Não há uma única resposta ou caminho a seguir, mas várias hipóteses ou muitos “achismos”. O que se sabe é que um escritor, que um dia produziu algo relevante para a Literatura, não deve ser esquecido e, acima de tudo, não se deve deixar esquecer. O esquecer de si mesmo é a porta para o coma literário. Salve-se já ou socorra algum escritor.
15/07/2019
Comentários:
Gostei muito deste teu texto, Cláudia. Inúmeras vezes me deparei com esse tal de apagão literário, porque me via diante de tantas possibilidades e caminhos a escrever que vinha esse vazio enorme assombrar o meu pensamento. Sim, "Esse excesso de vazio corrói o escritor."
Janete Sander Costa , Igrejinha, RS 06/08/2019 - 14:22
Abordagem certa sobre a timidez diante de obras e autores muito elogiados; às vezes nos desanima, mas geralmente é temporário esse medo.
Maria José Monte Holanda , Fortaleza-Ce 30/07/2019 - 15:34
Excelente reflexão, Cláudia. Define o problema, mostra as causas, desenvolve as consequências prováveis, expõe a ferida possÃvel de cada leitor, faz meditar, e aponta soluções. Tudo com uma pitada de leveza e concisão. Parabéns.
Gerson de Ramos Sebaje , Pelotas-RS 29/07/2019 - 14:02
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Cláudia de Villar
Cláudia Oliveira de Villar é natural de Porto Alegre/RS e atua desde 2000 como professora de séries iniciais do ensino fundamental em escola pública estadual. Possui doze livros publicados, sendo dez para o público infanto-juvenil e dois para adultos: Eu também... (Alcance, 2005, infantil), Bola, sacola e escola (Manas, 2009, infantil), Zé Trelelé no Gre-Nal (Manas, 2010, infantil), Uma foca na Copa (Manas, 2010, infantil), Meu Primeiro Amor (Manas, 2011, infantil), Aprendendo a viver e ensinando a sonhar (Manas, 2012, adulto), Rambo, um peixe no fandango (Manas, 2013, infantojuvenil), Mano e a boneca de pano (Manas, 2013, infanto-juvenil, O Mistério do Vento Negro, volumes I e II(Imprensa Livre, 2014-2015, juvenil), Um Continho de Natal(Metamorfose, 2016) e o lançamento de 2018: Histórias para ler no Intervalo ( Metamorfose, 2018). Participou de três antologias, Brasil Poeta (Alcance, 2005), Casa do Poeta Rio-Grandense (Alcance, 2005) e Mercopoema (Alcance, 2005) e uma coletânea de contos, Metamorfoses (Metamorfose, 2016). Além do curso de Magistério, Cláudia é graduada em Letras, especialista em Pedagogia Gestora e Supervisão Escolar. Atua no meio educacional também como mediadora de leitura e, como jornalista colaboradora, a escritora é colunista do Jornal de Viamão/RS, bem como escreve para o portal Artistas Gaúchos, Homo Literatus e Almanaque Literário.
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