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Literatura

O difícil hábito de ler
Maria Tereza Jorgens Bertoldi

Umberto Eco, escritor italiano e titular da cadeira de Semiótica na Universidade de Bolonha, relata em O Nome da Rosa (Il nome della rosa), romance publicado originalmente na Itália em 1980 pela Bompiani, que o conhecimento acumulado ao longo dos anos pelos pensadores sábios era restrito a poucos privilegiados, escondidos no interior de bibliotecas medievais de difícil acesso. Algumas vezes, esses conhecimentos eram transmitidos verbalmente, tornando a legitimidade dos mesmos bastante duvidosos. Com o advento da imprensa, já no mundo moderno, o conhecimento passou a ser divulgado com maior facilidade e rapidez, fazendo com que os sujeitos, agora no papel de leitores, pudessem ser parte desse mundo novo, bastando desenvolver o hábito da leitura. Nesse contexto, percebemos a significativa importância da leitura em nosso cotidiano.

Todavia, não basta apenas ler, é preciso entender o que o autor procura transmitir em sua obra, pois muitas vezes, devido à profundidade do tema, o leitor não consegue assimilar em um primeiro momento as ideias nela subjacentes. Assim, para que a informação contida numa obra literária seja compreendida e interpretada no seu verdadeiro sentido é necessário ler duas ou mais vezes cada capítulo a fim de desvendar de forma inteligente e crítica quais foram os caminhos percorridos pelo autor de modo a conciliar uma reflexão aprofundada sobre o tema a que se propôs, além de incluir uma percepção intuitiva, e até impressionista do fato literário, que, no caso, é a obra.

Portanto, o leitor deve desviar o olhar para outra mensagem entrevista através ou ao lado da mensagem primeira. Não se trata de uma leitura supérflua à letra, ao código simplesmente, mas antes o realçar de um significado que se encontra oculto. Em outras palavras, o interesse pela leitura não pode nem deve residir na descrição dos acontecimentos históricos apenas, ou ainda na ordem das palavras, repetições, relações de sentidos, paráfrases que diluem a linearidade mostrando que há outras mensagens inseridas na mensagem, que os limites são difusos e passam por mediações, por transformações – relação obrigatória ao imaginário - e sim no que eles podem ensinar após serem plenamente decodificados pelo receptor.

Lendo com atenção, não corremos o risco de engordar o rol dos desinformados, daqueles que estão constantemente errando por falta de informação ou ainda dos que estarão perdendo uma oportunidade rara de crescimento pessoal por não terem o hábito da leitura. Entretanto, é pertinente acrescentar aqui que na maioria das vezes o desleixo a leitura se dá em decorrência do tempo, restrito, devido ao acúmulo de tarefas a serem desempenhadas pelos cidadãos no seu dia-a-dia. Por outro lado, a mídia televisiva com suas imagens impactantes acabou manipulando o inconsciente coletivo, tendo em vista a projeção fantasiosa da artificialidade enunciada pela publicidade, que por sua vez elimina qualquer expectativa de aprofundamento na informação para dar mais velocidade ao consumo, como um capital de giro, que vende ideias e conceitos. Nada mais!

Não é à toa que a sofisticação do discurso televisivo publicitário aciona as malhas enfeitadas/enfeitiçadas da sedução e da persuasão, que, juntas, absorvem o desejo do outro. É nesse universo fascinante, onde som e imagem parecem promover a espetacularização da cultura moderna, moldada para agradar aos padrões da massa consumidora, que um grande contingente de pessoas relega a leitura para um segundo plano, quando isso acontece. Todavia é preciso educar-se, pois a importância da leitura transcende o ambiente que fazemos, abrindo a possibilidade de aprendermos coisas novas e de desenvolvermos nossas capacidades inferiores. Se remontarmos as reflexões de Umberto Eco, veremos que a busca pelo processo cognitivo pressupõe como o sujeito interpreta o mundo e como este mundo, visto como um grande texto se mostra interpretável a este sujeito particular. Talvez assim possamos entender o verdadeiro sentido escondido do universo mágico das palavras.

01/06/2020

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  Maria Tereza Jorgens Bertoldi

Maria Tereza Jorgens Bertoldi graduou-se em Jornalismo (1998) pela PUCRS. Na mesma IES fez mestrado (2002) e doutorado (2009) em Comunicação Social. Em 2014, concluiu o Pós-doutorado em Comunicação Social na UMESP. De 2003 a 2007, foi coordenadora do Curso de Comunicação Social do Centro Universitário Projeção, em Brasília/DF, e do Curso de Comunicação Social da URCAMP/Bagé, de 2008 a 2012. Ministra aulas em nível de graduação e pós-graduação, nas áreas de Educação (Pedagogia e Letras), Comunicação, Comunicação Empresarial, Marketing, Administração. Pela Metamorfose, concluiu o Curso Oficina de Literatura e Escrita Criativa e o Curso de Revisão e Edição Textual. Atualmente, participa como aluna do Curso Livre de Formação de Escritores. Trabalha como produtora de conteúdos freelancer e colabora como colunista para o site Café Combustível.

mt.bertoldi@uol.com.br


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