RAVISHANKAR, Anushka. Pega esse crocodilo! Ilustrações de Pulak Biswas. Tradução de Bia Hetzel. Rio de Janeiro, Manati, 2009. 48p.
Um grande problema nem sempre pede uma grande solução. Pode-se resolvê-lo de uma maneira criativa, usando a cabeça, pensando em coisas que ninguém pensou. E a resolução pode ser simples, não ocorrer na primeira vez e exigir várias tentativas. Para dar um jeito numa situação quase sem jeito, não se pode ignorar nenhuma idéia, seja ela de quem for! Mas, o fato é que depois que passa, tudo fica parecendo fácil.
O crocodilo tinha encalhado no canal. Quem viu primeiro foi Falguni, a vendedora de frutas. A notícia se espalha, comentam daqui e dali. E também se perguntam “como ele teria vindo parar ali?”. Ninguém sabe, com certeza, mas parece que veio nas águas da inundação, provocada pelo furacão e pela chuvarada. Agora, atolado no canal seco, fazem de tudo para pegar o crocodilo: tentam o policial Probin, com toda sua autoridade; o famoso doutor Duta, com uma injeção de sonífero; o famoso lutador Baianac Sing, com sua força e músculos de aço. Todos fracassam. A boca enorme e dentada do crocodilo resiste a varas, agulhas e golpes. Quando chega Mina, a menina peixeira, todos querem afastá-la do caminho, aos gritos. Mas a menina, destemida, resolve também tentar uma solução para o caso.
Este livro é antes de tudo um objeto de arte: capa dura, papel de boa qualidade, impressão bem cuidada, excelente diagramação, folha de guarda ilustrada, folha de rosto e uma alternância de cores elegantes e vistosas. O olhar já se encanta de cara!
O texto é fluido e divertido. A impressão brinca com letras de tamanhos variados, sugerindo alturas de som e ritmos, próprios de uma leitura interpretativa e em voz alta. Os elementos distribuídos na página não estão amontoados e o texto aparece com destaque, assim como a ilustração também pode ser admirada sem pressa e sem a concorrência de outros adornos.
Tudo no livro é ágil e essencial, até o virar da página. As letras no espaço (seja pelo tamanho, seja pela posição) brincam de construir poesia concreta, apelando para uma visualidade, que também faz parte do sentido do texto. E o sentido do texto, aponta para o humor, a brincadeira, a peripécia e a trapalhada. A voz do narrador ecoa como uma voz coletiva; a voz da multidão, comentando a situação. Alguns trechos têm o charme das quadrinhas e da poesia de cordel.
Grande peso tem a ilustração na obra. Em preto e branco, reforça com a cor (no caso, a verde) apenas um detalhe do personagem: a carapaça do crocodilo, o jaleco do doutor, a sunga do lutador, as frutas do cesto da vendedora, etc. Mas a graça maior está na técnica, que remete para os carimbos, para a xilogravura, para a impressão rudimentar.
A escritora é uma das mais importantes da literatura infantil e juvenil da Índia. O ilustrador é um dos mais festejados e experientes ilustradores da Índia. E o leitor brasileiro, pode conhecer, assim, bons artistas estrangeiros. Viva o livro e as boas traduções!
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