HETZEL, Graziela Bozano. O jogo de amarelinha. Ilustrações de Elisabeth Teixeira. Rio de Janeiro, Manati, 2007. 32 pp.
O mundo está mesmo dividido em pares opostos: em cima, embaixo; na frente, atrás; direita, esquerda... Mas há um “lado” que ninguém vê: o lado de dentro da gente! Sombrio ou luminoso, esse lugar “do meio” é o espaço de ficar sozinho, cada um com seu recheio.
Letícia brinca de amarelinha sob os olhos da madrasta. Pulando de casa em casa, não quer chegar ao Céu, porque lá estão todos os que ela já perdeu: a mãe e seus bichos de estimação. Em meio às lembranças, que vão se esfumaçando no tempo, Letícia vai sentindo as marcas do passado: o vaso de flores, o vestido rosa florido da mãe, as brincadeiras carinhosas das duas, até se acostumar com sua nova condição, vivenciada pela saudade extrema. Mas com o afeto do pai, os cuidados da madrasta (sobretudo na hora da febre!) e as histórias de Siá Ana, a menina acorda para a vida.
O texto é feito de frases curtas, num tom carinhoso e com muitas entrelinhas para serem preenchidas pelo leitor. A história revela-se em seus silêncios, e consegue ser poética, profunda e leve, tudo ao mesmo tempo!
Está lá a zona rural e o que ela tem de melhor: o brincar na rua, e, principalmente, os mistérios da noite, desvendados pela boca dos contadores de histórias, entre as baforadas do cachimbo, com a finalidade de povoar o imaginário popular com seus mais fortes representantes: a mula-sem-cabeça, o menino do pastoreio, a cobra que era princesa. Afinal, o importante é se arrepiar!
As ilustrações bem pequenas (como figurinhas de álbum de colar) deixam muito espaço para o branco da página, como a encher de luz o destino de Letícia. A aquarela completa a transparência da história.
Graziela Bozano Hetzel é autora premiada com o Jabuti e outros prêmios, e costuma escrever sobre temas difíceis com grande sensibilidade e maestria.
Elizabeth Teixeira, ilustradora igualmente premiada, é sempre fiel a seu estilo: o traço infantil, as perspectivas, as sombras e os cortes bonitos e harmônicos.
As duas juntas se completam, em delicadeza e poesia!
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