FREITAS, Tino. Controle remoto. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro, Manati, 2009. 52p.
Esse é o tipo da coisa para a qual não há manual!Há sim, livros de psicólogos famosos, médicos consagrados, pediatras experientes, mas entre a teoria e a prática cotidiana, sempre vai uma distância, às vezes quilométrica.
Nessa história, os pais de primeira viagem, vêem-se às voltas com os problemas de criar e cuidar de uma criança, passada a festa dos primeiros momentos. Até que descobrem, que junto com o bebê, tinha vindo o controle remoto. Pronto! Apertar botões é mole, e logo logo tudo funciona às mil maravilhas, uma vez que o uso generalizado e conhecido das funções das teclas não deixa dúvida: play (pode brincar), sleep (hora de dormir), menu (hora de comer), mute (silêncio total), repeat (faça o que eu digo),etc. E a melhor de todas: sap, que vêm a ser “serviço de ajuda aos pais”! Mas um dia o controle deixa de funcionar e o filho deixa de obedecer. Claro, era preciso trocar as pilhas. Mas nem assim, o problema fica inteiramente resolvido, pois era mesmo necessário procurar a assistência técnica. E só quando descobrem que o caso é de “controlerremotite aguda” é que descobrem também um jeito de ser família, de usar o diálogo e demonstrar o afeto.
Sem dúvida estamos diante de uma das obras mais originais dos últimos tempos! Uma maneira leve, simples, divertida e fantástica de criticar o abuso da tecnologia, as babás eletrônicas, o freqüente despreparo de homens e mulheres, com os quais nos deparamos por aí, para as responsabilidades (e delícias) dos papéis de pais e mães.
Tino Freitas é músico e contador de histórias. Talvez por isso seu texto flua com tanta musicalidade. O humor é sua marca principal.
Mariana Massarani, ilustradora das mais premiadas, requisitadas e reconhecidas aposta no seu estilo: traços grossos contornando as figuras, como se fossem desenhados à lápis, preenchimentos de cores contrastantes, figuras sempre bem-humoradas, gestos inusitados, expressões inesperadas e fundo branco na página.
O livro é charmoso também pela capa dura, pelo formato comprido, pela alternância entre os fundos verdes e o uso dos sinalizadores de “power” e “adiante”, teclas bastante conhecidas de um controle remoto.
O mais emocionante mesmo (ufa! o final de algo tão polêmico é sempre um risco!) é constatar que se pode mesmo abdicar dos aparatos eletrônicos e modernosos, para criar laços de afeto, diálogos e relações de proximidade. Mas o livro aponta isso sem moralismos e da forma mais lúdica possível. É pra ler e reler muitas vezes.
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