GARCIA-ROZA, Livia. Betina tem um problema. Ilustrações de Mariana Massarani. Rio de Janeiro, Galerinha Record, 2010. 28p..
Há coisas que ficam martelando na cabeça da gente. Horas a fio, um dia inteiro, até nos sonhos. É assim com as invenções, com a arte, com os problemas.
Betina, a heroína desta história tem uma família e tanto! A mãe que fala sem parar, que tem mania de explicar tudo, como se uma criança precisasse de tradução simultânea, pra tudo, o tempo todo. O pai, brincalhão, mas talvez um pouco alheio ao dia-a-dia. E o tio, que é quem ouve e ajuda a resolver os problemas. E é justamente para o tio que a mãe da Betina apela, quando a menina tem um problema pra resolver. Talvez porque ele seja um profissional da área, talvez porque ele tenha realmente jeito com criança, talvez porque ele jogue o jogo da fantasia em pé de igualdade com as crianças.
E sabe qual é o problema da Betina neste momento? Não conseguir parar de fazer o número oito: na palma da mão, nas pernas, nos braços, no chão, na areia da praia, na mesa da escola, no cachorro, etc... É um comportamento compulsivo, uma mania que precisa de explicação, ajuda, interrupção... coisa que não é fácil de resolver!
O gostoso do livro é a leveza que as situações têm. O cotidiano cheio de novidades, de situações divertidas, de soluções engraçadas. O gostoso do livro está também nos diálogos. A história é quase toda feita de diálogos, principalmente entre a mãe e a filha, sublinhando bem os papéis de cada uma, mas deixando muitas coisas para serem percebidas nas entrelinhas. Por exemplo: mãe quase sempre é exagerada e quer resolver tudo da forma mais rápida possível. Há uma praticidade nas ações, que chega a provocar o riso.
Mas o que parece ser o grande segredo da história é justamente a dificuldade de comunicação. A menina, que é quem conta a história, lá pelas tantas diz: “quase tudo que os adultos falam eu não sei”. Sinal de que para penetrar no universo infantil é preciso muito tato e que não há receita de bolo. Cada sujeito é único! A situação é aberta, o final é aberto, a solução é aberta... Mas fica latejando!
Os desenhos de Mariana Massarani são divertidos, coloridos, exagerados e não tem o rebuscamento dos que procuram reproduzir fotograficamente o mundo. A ilustradora prima por brincar com o traço, por reforçar os contornos e denunciar o lápis, a linha, o foco infantil também na visualidade do mundo. E depois, seu charme está precisamente no fundo branco da página, que ela sabe explorar e valorizar como ninguém. Os detalhes de Mariana ilustradora estão nos preenchimentos do cenário, na padronagem das roupas, nos objetos curiosos que desencava, nas posições teatrais que os corpos assumem.
Uma boa leitura, com certeza! Pra pensar, com leveza, as relações, principalmente entre mãe e filha. Não é este o mês?
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