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Literatura

Três experiências de auto publicação - Parte I
Maurem Kayna

Não vou fazer coro com a conversa gasta sobre as dificuldades que um autor iniciante enfrenta para ter sua obra publicada – seja via editoras tradicionais, serviços pagos de publicação ou publicação independente do princípio ao fim. Prefiro analisar experiências concretas para, junto com outros interessados, entender o que funciona e quais as oportunidades de fazer novas alternativas funcionarem (sempre ciente de que a mágoa contra o mundo que não conhece a genialidade do autor pode não ser problema do “mundo”, mas da obra em si, que talvez não seja assim tão digna de nota). Então vamos lá, bem no centro do umbigo e por ordem cronológica de experiência. Apresentarei uma série de três artigos analisando os resultados alcançados, os equívocos cometidos na divulgação e as coisas que funcionaram na publicação de três e-books meus – dois são e-books com vários contos e o outro é um single. Nesse primeiro artigo, falarei do e-book Pedaços de Possibilidade. No próximo falarei sobre a publicação via Smashwords e depois sobre a interação com a Apple e sua iBookstore quase brasileira.

Em 2010, graças à Simplíssimo, essa seleção de contos (que ficou em 7º lugar no Prêmio Sesc de Literatura 2009) foi editada nos formatos ePub e Mobi. Na época, acreditávamos (eu, a Simplíssimo e mais um pequeno grupo de entusiastas das possibilidades do formato digital), com base no cenário de outros “mercados leitores”, no imenso potencial da distribuição de conteúdo – literário e técnico – através dos e-books. As vendas e, mais que isso, a adesão ao formato e-book, no entanto, foi menor do que a mais moderada das expectativas. Analisemos, então, alguns aspectos dessa publicação (procurarei empregar toda a neutralidade que seja possível, ainda que seja eu a autora).

 Quanto à forma
O e-book tem uma capa bacana, está bem diagramado – parágrafos justificados, a navegação entre contos e através do table of contents funciona bem. Só recebi uma sinalização quanto ao fato de que o espaçamento entre parágrafos é duplo em alguns casos e em outros não sem que haja qualquer intenção ou função no texto para isso – foi algo imprevisto que nem sei se ocorre em todos os modelos de e-reader e acredito que a maioria dos leitores sequer notou (mas posso estar enganada).

 Quanto ao conteúdo
Esse é o ponto em que sou mais suspeita, por isso começo com a crítica: a revisão dos textos foi feita por mim, o que consiste, geralmente, em um grande erro. Não há um grande número de incorreções, nenhum erro grosseiro será encontrado, tampouco sérios problemas com tempos verbais e gramática, mas certamente há diversos resíduos que poderiam ter sido limpos com uma revisão independente, sem contar o estilo em si. Lição que adotei para futuras publicações

As resenhas e opiniões que recebi dos poucos leitores que se manifestam foram, na sua maioria, positivas (e não vieram apenas de amigos, o que dá certa confiança, mas não muita). Para ler as resenhas, é só conferir a página do livro no skoob e a customer review no site da Amazon. As críticas não foram arrasadoras, mas muito construtivas, dando conta de um certo excesso no uso de imagens e especialmente no emprego de metáforas muito variadas em um único texto. Fiquei ruminando isso um bom tempo e não sei se em textos futuros estarei a salvo destes deslizes, mas certamente estarei atenta.

Quanto à divulgação
À época do lançamento, criei o blog Pedaços de Possibilidade para, enquanto anunciava o início das vendas no site da Simplíssimo, postar tópicos relacionados ao mundo dos e-books e da literatura. Sem uma grande base de outras interações com blogueiros e sem uma presença forte nas redes sociais (entrei no facebook e no twitter no mesmo mês da criação do blog, mas sem saber minimamente como utilizar tais ferramentas para divulgação com foco; aliás, creio que ainda hoje não aprendi muito bem e tenho pouca paciência para isso).

Adicionalmente, enviei e-mail aos amigos chegados falando sobre o livro. Na loja online da Simplíssimo o livro ficou em posição de destaque na página inicial por algumas semanas. Houve ainda as promoções no twitter que distribuíram algumas cópias do ePub.

Depois disso, consegui divulgar o livro indicando os sites para compra em espaços como o blog Ebook BR (na época chamava-se Kindle Blog Brasil) e no Revolução Ebook – passando a colaborar esporadicamente com ambos, aliás.

Por fim, desde que registrei meu domínio, mantenho no site uma seção chamada Livros. Inicialmente havia apenas o e-book Pedaços de Possibilidade, agora também relaciono outras publicações das quais participei. Paralelo a isso, tenho enviado o livro gratuitamente para quem porventura se interesse e até para pessoas que talvez não se interessem, mas que me interessariam muito como leitoras (risos), embora o faça tentando não ser chata e, obviamente, sem alimentar a real expectativa de ser lida – uma aposta de quem não acredita muito em sorte, mas vá que...

Resumindo, não formulei nenhum plano estruturado de divulgação, não possuo uma rede de contatos bem organizada e o resultado das divulgações efetuadas, como era de se esperar, é pífio. O que, naturalmente, não significa que o livro não está sendo lido somente porque faltou divulgação bem feita, bem pode ser que ele simplesmente não tenha méritos. Essa é uma reflexão que sempre convém a qualquer autor, mesmo que tenhamos ciência de que nunca o “sucesso” de uma obra deve-se a apenas um fator e bem pode suceder a situação de obras medíocres alcançarem grande número de leitores, assim como o oposto.

Quanto às vendas
Os números, depois de tanto tempo, se perderam um pouco em função de sucessivas mudanças adaptativas na distribuição do catálogo da Simplíssimo, mas poderia arriscar o seguinte resumo: As vendas correram relativamente bem nos primeiros dias logo após o lançamento da loja virtual (da própria Simplíssimo), mas restritas basicamente a amigos e contatos para quem havia divulgado o lançamento – nada inusitado.

Mais tarde, esse mesmo e-book foi disponibilizado para venda na Amazon e nas livrarias Cultura e Saraiva. Na Amazon, embora saiba de 3 ou 4 pessoas que compraram e leram (pois comentaram o conteúdo e não as conheço nem enviei o livro a elas), as vendas não aparecem no relatório a que tenho acesso. Saraiva e Cultura são possivelmente mais difíceis no acesso aos números, não tenho ideia se houve alguma venda. E temos ainda a história do apagão da Cultura, que em abril deste ano simplesmente perdeu o acervo de e-books de seu servidor. Alguns foram recuperad os, outros não (incluindo o meu). Com os esforços espasmódicos-esporádicos em torno dessa publicação, em 2012 coloquei-o à venda no meu site, através da plataforma Hotmart, que viabiliza para quem não tem uma estrutura própria de loja virtual, a comercialização de arquivos digitais. O Hotmart tem ainda um programa de afiliação que faculta a outros sites venderem o seu produto (também através de uma conta no Hotmart). Uma ideia bacana, mas que sem divulgação intensa e uma boa aliança com afiliados ativos, resulta em pouquíssimas vendas.

Não estaria errando muito ao afirmar que não alcançamos sequer uma centena de possíveis leitores (digo possíveis porque comprar não é sinônimo de ler – eu mesma tenho dezenas de livros comprados há muito tempo que não sei quando começarei a ler). Vale ponderar que, possivelmente, alguns (ou muitos) dos compradores não tiveram facilidade para acessar os arquivos, apesar dos tutoriais sobre instalação do Adobe Digital Editions que havia no site

Resumo da Ópera (digo, da performance da obra)
A edição de Pedaços de Possibilidade me serviu muito para vários aprendizados, o que por si já vale a empreitada (e me faz ser grata ao apoio da Simplíssimo). Não foi sucesso de vendas, não projetou meu nome como escritora iniciante e ainda me impede de continuar a participar de certos concursos literários por ter me tirado da categoria “não publicada”. Entretanto, me fez entender um pouco dos trâmites de uma publicação (independente ou não), os passos necessários para não fazer feio (especialmente aqueles que eu não dei antes); fez com que algumas leituras de pessoas com quem não tenho (ou não tinha antes) qualquer vínculo me dessem uma ideia da impressão causada por meus textos, permitindo inclusive que algum leitor mais crítico me fizesse valiosas críticas quanto a meus pontos mais frágeis na escrita.

Por isso tudo digo, valeu muito a pena e foi por isso (embora não necessariamente como uma decisão consciente) que segui com as outras experiências que contarei nos próximos dois artigos. Aguarde (mas sempre desconfie, risos).


17/12/2012

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Comentários:

Oi. Estou praticando a liberdade de escrever e de ler o que me convem. Aqui, neste espaço reservado aos que gostam de boa leitura, critica ou não, podemos gritar (e que o moderador não se ofenda com o grito). Muitos são lidos, poucos são ouvidos, quese nenhum é comentado. Acho que os artistas de nossa casa (a AG)precisam de uma sacudadida. Preguiça de ler e mais preguiça de falar não cabe para os que querem construir um mundo novo. Bem, se a previsão da mãe Ana não se concretizar. Vamos lá amigos, gritemos que nós temos e gostamos de cultura. Gostei do teu grito. Bom natal e um ano novo cheio de trabalho e muita leitura e muita escrita.
Marcos de Andrade, Passo Fundo/RS 19/12/2012 - 11:01

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  Maurem Kayna

Maurem Kayna é engenheira florestal, baila flamenco e se interessa por literatura desde criança. Depois de publicações em coletâneas, revistas e portais de literatura na web resolveu apostar na publicação em e-book e começou a se interessar por tudo que orbita o tema, por acreditar que essa forma de publicação pode ser uma das chances de aumentar o número de leitores no Brasil. Autora da coletânea de contos Pedaços de Possibilidade, viabilizado pela iniciativa da Simplíssimo.

mauremkayna@uol.com.br
mauremkayna.com/
twitter.com/mauremk


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