Ivo Bender
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Em 1961, pediram-me que escrevesse um texto curto para ser encenado na Universidade. O que, à época, pareceu-me apenas um desafio tornou-se um hábito como o cigarro para o sujeito que fuma. O texto nascido então tem por tÃtulo As Cartas Marcadas ou Os Assassinos. Anos mais tarde, a peça seria completada por mais duas outras, Sangue na Laranjada e Alvorada Vermelha, que nunca foram editadas. As peças, agora reunidas, formam uma trÃade intitulada Pequeno Oratório Lúdico de Aspérula. São comédias breves que, quando encenadas, receberam, de parte da crÃtica, o carimbo de teatro do Absurdo ou do Nonsense. A partir daÃ, começaram a me definir -ai de mim! -como um novo Qorpo Santo.
De 1964 em diante, com o garrote militar intimidando a criação artÃstica, vi-me obrigado a enveredar, de fato, pelo teatro do Absurdo. São dessa época o texto perdido intitulado A Casa Sitiada e, ainda, Quem Roubou meu Anabela?, QueridÃssimo Canalha e Sexta-Feira das Paixões e a comédia tardia Surpresa de Verão.
Embora definidos como teatro do Absurdo ou, na melhor das hipóteses, como dramaturgia ligada à literatura Fantástica que, então, caracterizava a criação literária na América Latina, esses textos denunciavam, a seu modo, o caráter letal da ditadura. As peças produzidas transpõem a violência, presente no âmbito polÃtico, para o cÃrculo familiar ou para, digamos, o cÃrculo do gangsterismo, como é o caso de QueridÃssimo Canalha.
Quando nos defrontamos com um oponente das dimensões de uma ditadura -e ditaduras sempre se fizeram presentes nesta nação infeliz- fica-se questionando qual o teatro possÃvel em condições tão adversas. Por isso, antes de tudo, era preciso driblar o regime e manter-se vivo. Depois, seguiam-se outras mazelas: enfrentar uma censura boçal e castradora, as naturais dificuldades para levantar um espetáculo e, mais uma vez, a censura da peça antes da estréia.
Escrever sem ser preso ou sem sofrer maiores violências do que passar um final-de-semana prestando depoimento numa delegacia qualquer, era uma verdadeira proeza, já que os informantes estavam por toda parte.
Quando os ditadores cansaram do poder, parecia que bons ventos soprariam. PodÃamos rir de novo e fazer rir. Em 1981, estréia O Cabaré de Maria Elefante, colagem de vários textos curtos costurados por uma situação básica. E a partir daÃ, atenuado o caráter absurdista dos textos, pude mergulhar, amparado pelos mitos gregos, nas paixões que movem os atos e os gestos humanos: sem ter de denunciar nada, era-me possÃvel, agora, examinar a alma. A Trilogia Perversa resultou dessa descida aos Infernos.
No entanto, o que parecia uma etapa de bonança nos céus brasileiros, era apenas um breve intervalo em que nos foi possÃvel respirar mais tranqüilamente. Aguardava-nos o presente estado de coisas.
Que teatro escrever, é a pergunta que novamente retorna.Como denunciar, como atacar um sistema visivelmente nocivo ao homem? Como trabalhar com as questões que se nos apresentam, sem retornar ao surrado teatro de panfleto e sem ter de fazer uma enfadonha dramaturgia de tese? A pergunta é de difÃcil resposta e qual o modo mais eficaz para denunciar o terror e a miséria neo-liberais no Brasil, só o tempo poderá apontar.
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