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Morre aos 82 anos o dramaturgo gaúcho Ivo Bender
AGES - Associação Gaúcha de Escritores


Com destacada trajetória como escritor e tradutor, Bender foi um dos sócios fundadores da AGES

Faleceu, na madrugada desta segunda-feira (25/6), o dramaturgo, professor, tradutor e escritor gaúcho Ivo Bender. Ele tinha 82 anos e estava no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, onde se encontrava internado em estado grave desde 2 de junho, fazendo tratamento para insuficiência cardíaca.

Nascido em 1936, em São Leopoldo (RS), Ivo Cláudio Bender foi um dos sócios fundadores da Associação Gaúcha de Escritores (AGES) em 1981. Começa a escrever no início da década de 1960, influenciado pelo Teatro do Absurdo. Nas décadas de 1970 e 1980, produz a maior parte de suas peças, cujas principais características são a crítica social, o humor e o recurso ao fantástico. Traduz obras de Racine, Emily Dickinson e Harold Pinter.

Escreve sua primeira peça, As Cartas Marcadas ou Os Assassinos, em 1961, a pedido da amiga Lúcia Mello, quando ainda é estudante no curso de Letras na Universidade do Rio Grande do Sul - URGS. Conforme afirmava, servia-se do método de escrita automática, deixando-se levar livremente pela associação de ideias.

Após a boa recepção de As Cartas Marcadas, encenada por amadores no Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia da URGS, e contando com a participação do autor também como intérprete, segue-se A Terra Devorada, que estreia no Theatro São Pedro de Porto Alegre, em 1963. Por ser excessivamente hermético, o texto não tem boa receptividade do público. A terceira, Os Alcatruzes, é renegada pelo próprio autor.

Bender divide-se entre São Leopoldo e Porto Alegre até 1965, época em que se muda definitivamente para Porto Alegre. Além da sua atividade como dramaturgo, trabalha como ator em alguns espetáculos. Em 1967, escreve Auto das Várias Gentes no Dia de Natal, dirigido ao público infantil, que é interditado pela censura no ano seguinte; e a comédia musical A Fantástica Aparição de Red-Rider em Brejo Seco Pondo Fim a uma Situação Insustentável ou O Saloon da Consolação, nunca publicada ou encenada.

Em 1969 escreve A Casa atrás das Dunas, e, dois anos depois, o seu primeiro sucesso comercial, Queridíssimo Canalha, com trama ambientada em um país fictício da América Latina. Maior sucesso de público obtém a peça seguinte, montada simultaneamente em Porto Alegre e São Paulo, Quem Roubou Meu Anabela? Novamente vale-se dos procedimentos do Teatro do Absurdo para contar uma história que envolve traição e aspectos sobrenaturais. Ainda em 1972, participa com A Casa Sitiada, da Feira Gaúcha de Opinião, coordenada pelo Teatro de Arena de Porto Alegre, e cria O Auto do Pastorzinho e Seu Rebanho, nova incursão no teatro para crianças, público para o qual escreve três peças: O Macaco e a Velha, A Invasão das Tiriricas e A Estrelinha Cadente.

Sexta-Feira das Paixões, que vem em seguida, em 1975, retoma algumas questões tratadas em peças anteriores: a ação localizada em um país fictício, em estado de sítio por causa de uma guerra civil; o confinamento dos personagens dentro de uma casa; e o elemento sobrenatural emoldurando o desenvolvimento das ações. Desta vez, no entanto, o humor é deixado de lado, em favor de uma atmosfera densa e sufocante, em que uma das personagens é vítima de chagas, como as de Jesus Cristo, todos os anos, na Sexta-Feira Santa. A trama faz uma crítica à situação política do Brasil da época.

O Cabaré de Maria Elefante, de 1981, é um texto episódico, em que mais de 30 personagens dão vida a diversas situações, tendo como eixo unificador o palco de um cabaré, onde são apresentados números artísticos variados. Um vampiro, um bando de freiras, um estuprador e um travesti, chamado Jean Harlow, são algumas das pitorescas figuras criadas pelo autor, em um contexto muitas vezes metateatral. A opção pelo humor, frequentemente anárquico, deixa entrever a crítica social característica do autor, abordando a alienação vinculada aos meios de comunicação de massa, o movimento feminista em seus aspectos radicais, as relações de opressão no universo do trabalho.

Com o lançamento, em 1988, da Trilogia Perversa, inspirada em alguns dos mais conhecidos mitos gregos, Bender inaugura mais uma fase de sua carreira dramatúrgica. Em 1826, o mito de Atreu e Tiestes é transposto para o contexto dos primórdios da colonização alemã no interior do Rio Grande do Sul. Em 1874, a tragédia Ifigênia em Áulis, de Eurípides, é adaptada para o episódio da matança dos Mucker - colonos alemães reunidos sob a liderança messiânica de Jacobina Maurer. Na peça 1941, o mito de Electra dá margem à criação de uma trama ambientada durante a grande enchente de 1941, que devasta o território gaúcho. Conforme Maria da Glória Bordini, "pela inovação temática, pelo extremo despojamento formal e pela concepção dramatúrgica à grega, seca e transparente, essa obra representa uma contribuição para o teatro brasileiro de caráter incomum".

Após a Trilogia Perversa, Bender publica textos como Marcos IV, 23, adaptação, feita com Cláudio Cruz, adaptada de um conto de Jorge Luis Borges; O Boi dos Chifres de Ouro, classificada pelo dramaturgo como "comédia pampeira", uma homenagem ao escritor Simões Lopes Neto, em que novamente a temática fantástica domina; e Mulheres Mix, comédia dramática em que um grupo de mulheres administra um brechó, por onde passam figuras excêntricas, em uma estrutura fragmentada que lembra O Cabaré de Maria Elefante.

Diálogos Espectrais, texto não publicado, tem caráter semiautobiográfico, e conta a história de um tradutor dos poemas de Emily Dickinson que trava contato com o espectro da poetisa norte-americana. Novamente a temática fantástica é dominante, porém sem o caráter alegórico de antes, constituindo um texto muito mais intimista e focado na impossível relação de amor entre a autora e o tradutor.

O escritor Caio Fernando Abreu, em depoimento de 1984, afirma que "passando do cômico ao trágico, do subjetivo ao objetivo, capaz de esmiuçar em profundidade não só os tormentos individuais como as mazelas sociais, o teatro de Ivo derrama-se por vários níveis de leitura, passível de inúmeras interpretações". A fluência da escrita de Ivo Bender em gêneros tão distintos quanto a tragédia e a comédia demonstra seu domínio da linguagem dramática, em uma obra em que se alternam a prolixidade de algumas peças como O Cabaré de Maria Elefante e o discurso descarnado até o limite do indispensável, como na Trilogia Perversa.

 

Data: 25/06/2018

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