artistasgauchos












Desenvolvido por:
msmidia


Oscar Bessi Filho: o capitão da 14ª Feira do Livro de Montenegro - Jornal Ibiá
Oscar Bessi


Entrevista concedida em Abril de 2016 ao "O Literal", um projeto de parceria do Jornal Ibiá com a Escola Técnica São João Batista:

Com muita alegria e determinação, Oscar Bessi Filho, 45 anos, empolgou todos à sua volta. O humor do Patrono da 14ª Feira do Livro de Montenegro tirou a vergonha e a timidez da cara de cada um dos repórteres de O Literal. A conversa, mais que esperada, aconteceu na Redação do Jornal Ibiá, de maneira informal. 
Apesar de dividir seu tempo entre a literatura e a carreira militar, o Capitão da Brigada e presidente da Associação Gaúcha de Escritores consegue passar, a cada palavra, todo o comprometimento que tem pela escrita. Mesmo com tantos títulos, é fácil perceber que a humildade de Bessi é uma característica notável. O escritor se mostrou muito entusiasmado com a Feira do Livro e com a presença de O Literal: “O Literal é o ‘coração da Feira’, o que realmente vai dar vida a ela”, definiu. 
Sempre expressivo, o Patrono falou sobre sua vida, seus trabalhos e projetos, respondendo a todas as perguntas dos alunos jornalistas e contando suas expectativas quanto à 14ª Feira do Livro. 

O que o senhor diria a quem se aventura a escrever um livro?
Primeiro leia, leia muito, depois se aventure, ouse e não tenha medo de escrever porque não é difícil. É só um jeito de se comunicar, de ser compreendido por quem vai receber a nossa mensagem. Moacyr Scliar dizia uma coisa maravilhosa: “O escritor é uma sequela das suas leituras”. Por exemplo, eu sou sequela das minhas leituras.

Como é ser capitão da BM e escritor?
É ser capitão da Brigada e escritor. Há um costume equivocado de trabalhar com rótulos e nós não somos produtos sem vida, não somos uma garrafa de cerveja que precisa de rótulo. Somos seres humanos, amplos, complexos, variados. Não é possível dizer que eu não misturo as coisas, a gente é pura mistura. Embora capitão da Brigada, na minha atividade eu sou também escritor, é claro, porque o escritor é um artista e o artista precisa de sensibilidade.

Quais escritores influenciaram sua carreira literária? 
Minha primeira paixão foi Maria José Dupré, pois ela tinha uma coleção do cachorrinho Samba que eu adorava. Minha segunda paixão foi Hélio de Soveral, pela sua coleção chamada SS6 Sociedade Secreta Dos Seis. Ambos influenciaram no meu jeito de escrever, por exemplo, algo juvenil, que tenha aventura. Assim como Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta, Millôr Fernandes, Luís Fernando Veríssimo porque achava o jeito que eles escreviam muito bom, era algo muito inteligente. Me influenciaram na forma de escrever crônicas.

O senhor considera “O silêncio mais profundo” um livro autobiográfico?
O escritor é autobiográfico. Graciliano Ramos dizia: “nós somos, no ato de escrever, 10% só de inspiração e 90% transpiração e técnica”. Assim, a inspiração vêm das nossas vivências, dos nossos traumas, dos nossos medos, das nossas histórias, as histórias não resolvidas, as histórias felizes, as histórias tristes, dramáticas, porque o escritor precisa falar do que ele conhece.

E hoje, o que o senhor lê que o influencia?
Ruben Fonseca, João Paulo Ribeiro, Érico Veríssimo. Recentemente me apaixonei pelo cubano Leonardo Padura Fuentes, de “Hereges” e “O Homem Que Amava os Cachorros”.

Então o dom se constrói com o tempo?
 Eu não acredito em dom, por exemplo, que tu estás caminhando na rua e cai um raio na tua cabeça e tu passas a ter um dom. Eu acredito em sensibilidade, em percepção e em abrir o olhar. 

O senhor é definido como um “batalhador das causas contra as drogas”. Esse é o motivo de ter começado a escrever para adolescentes?
Não. Eu escrevo para adolescente porque ele é crítico, ele debate, ele te contesta. Eu gosto de debate. O adolescente vive assim e é uma fase fantástica. Acredita em coisas com paixão e com convicção. Está ali descobrindo, se aventurando. O adolescente consegue conduzir, assim como vocês estão conduzindo esse trabalho, com muita vontade.

O senhor já publicou algum conto?
Sim. O conto Carmas de Nossas Carnes, que é um conto antigo. Era um padre que tinha a questão de preconceito, amor proibido, desejo, entre outros. É um conto muito melódico. Foi legal, pois esse conto ganhou prêmio no Theatro São Pedro, lá em Porto Alegre, que estava lotado.

Em seu site, o senhor conta que o boom do rock e os movimentos estudantis o inspiraram a escrever poesias. O senhor entrou em Grêmios Estudantis? 
Entrei. Aqui em Montenegro, eu não participava tanto, mas na mesma época em que eu frequentava a Unisinos por um tempo, o meu primo era presidente da União Municipal dos Estudantes de Porto Alegre (UMESPA), onde começamos a participar de movimentos estudantis vinculados à União Nacional dos Estudantes (UNE). Eu gostava de protestar, pois achava tudo muito injusto. Porque tinha muita desigualdade e, na verdade, ainda tem.

E para o Senhor, qual a importância dos movimentos estudantis na sociedade atual?
Importância máxima. Acho que os estudantes têm que se organizar, pensar, articular e se posicionar com todo respeito. Argumentar com inteligência é o que nos faz ser respeitados. Na hora que levantar a mão para falar ou discordar, é preciso passar respeito pelo que será dito. A função dos Grêmios Estudantis é proporcionar o fortalecimento de grupo, de pensamento crítico, de roda de leitura, de roda de debate. Os jovens que tomam iniciativa vão construir a nossa sociedade logo em seguida, serão seus condutores. Terão todas as empresas em suas mãos. As atitudes que tomarem dependerão daquilo que será construído internamente e os Grêmios Estudantis ajudam nessa construção. 

O senhor já foi patrono de várias Feiras do Livro. Como é ser patrono da Feira na cidade em que mora?
Aqui foi a cidade onde eu descobri de fato a leitura, a biblioteca, em que li meus primeiros jornais e construí a vontade de escrever. Ser patrono em Montenegro é diferente, pois as principais histórias da minha vida estão aqui, o meu primeiro amor e essas coisas que marcam. 

O que mais o inspirou a ser escritor?
Quando eu estudei no São João, a professora Maria Isabel Funk Nonnemacher me incentivou a escrever e foi ela quem me inscreveu em meu primeiro concurso literário. É uma história engraçada: eu matei aula pra jogar bola e pedi para um amigo meu entregar uma redação. Ela adorou, mas me deu zero porque achou que não era minha. Nessa dúvida, eu propus fazer uma redação na frente dela, achando que ela não ia aceitar, mas ela aceitou. Eu escrevi e, no ano passado, na oficina de crônicas que realizei, ela foi lá levar as minhas redações que ela tinha guardado até hoje, amareladas.

O senhor criou o concurso literário “Montenegro contra o crack”. Acredita que o concurso trouxe algum resultado prático na luta contra as drogas?
Não se conseguiu os resultados esperados por falta de apoio. Tem movimentos que precisam acontecer quando todas as pessoas estiverem conscientes de que a causa é pública. Quando ocorrem movimentos onde as pessoas começam a querer se aparecer, fazer mídia ou se promover em cima, o resultado fica comprometido. Mas todo resultado, por mínimo que seja, é valido.

E existe a intenção de promover um novo concurso?
Eu não sei. Como eu não trabalho em Montenegro, não consigo me envolver nas coisas da cidade, aqui eu não sei se vai surgir. Concursos são fantásticos. O primeiro concurso que a gente organizou em Montenegro foi quando eu era presidente da Associação Montenegrina de Escritores, junto com o Jornal Ibiá. O concurso literário estimula as pessoas a escrever, ler, pesquisar, te faz descobrir novos talentos. Precisamos da literatura para humanizar a sociedade violenta, absurda, efêmera, plástica, ecológica e insensível.

Ser presidente da Associação Gaúcha de Escritores estimula sua vaidade? 
Não, porque tenho um problema de autoestima terrível. Não me influencia o ego. Eu tenho muita humildade de dizer que é uma honra para mim. Porque hoje eu tenho ali conversas em reuniões, tomando um cafezinho, um vinho, tomando uma água, com caras que eu lia, só conhecia das orelhas de livros. 

O senhor sofre preconceitos, rótulos?
Sim, na Brigada, por ser escritor; na literatura, por ser brigadiano. Porque brigadiano tem fama de burro e escritor tem fama de muito sensível.

Alguma vez o senhor se deparou com algum ídolo escritor?  
Conheci o Scliar, que me disse uma coisa muito bacana, da diferença de ser capitão da Brigada e escritor. Eu fui brincar, porque quando tu encontra um cara de quem tu é muito fã tu não sabe o que dizer, e eu disse: uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ele me deu a melhor lição: quem lida com dores e dramas humanos, transformando isso em literatura, tem muito a dizer.

A publicação do primeiro livro, “Corra que a Brigada vem aí”, trouxe algum inconveniente para sua carreira militar?
Trouxe. As instituições militares ainda não se acostumaram a lidar com o espírito crítico. As coisas são muito absolutas, ordem é ordem. A ironia é uma coisa proibida. Mas isso está mudando.

Por essas inconveniências, o senhor, em algum momento, pensou em desistir de ser escritor?
Não, isso é uma coisa que sempre me estimulou. Se tem uma coisa que eu guardo com orgulho são os chicotaços que eu tomei por causa de coisas que eu escrevi. Eu acho o máximo porque, pelo menos, eles leram.

Então o senhor acha a polêmica algo estimulante?
É, até certo ponto. Tu não podes ficar em cima do muro sempre. De vez em quando, tu tens que ter um posicionamento para as pessoas te reconhecerem e até para o respeito contigo mesmo.

De 2001 a 2005, o senhor foi premiado cinco vezes como Revelação Literária em feiras do livro de Porto Alegre. Qual foi a sensação de ter seu trabalho visto e reconhecido?
Era muito gratificante, mas depois eu ficava com uma sensação de que podia ser melhor, porque, sinceramente, eu não gostei de praticamente nada do que eu escrevi até hoje. Às vezes, eu não escrevo os textos com o tempo que eu gostaria de me dedicar a eles.

Entre suas obras, qual a que o senhor considera mais complexa?
O Silêncio Mais Profundo é a obra mais complexa, porque eu permiti muito a emoção nesse livro. Eu mergulhei nas profundezas da inspiração, lá onde ficam os tesouros de tudo aquilo que vivemos. 

O Senhor permite que seus filhos leiam seus livros?
Deixo sim, faço questão que leiam, mas eles não querem ler. Aliás, minha filha mais velha, de 23 anos, lê muito. Então ela é uma espécie de leitora crítica dos meus livros. O de 13 anos é músico e não lê meus livros. O mais novo, de três anos, ainda não sabe ler, mas pinta alguns livros que são ilustrados.

Na sua cidade a Associação dos Escritores está se dissolvendo. Como o senhor explica isso?
É uma lástima, ela deve voltar em breve. O Carlos Leser foi um baita presidente, um cara super sensível, uma pessoa fantástica, maravilhosa, mas ele não conseguiu lidar com algumas questões de ego ali dentro e a coisa se perdeu.

O senhor disse que escreve todo dia, mas quando?
Depende, hoje, por exemplo, eu escrevi da 1h às 3h da madrugada. Tenho insônia.

O Senhor escreve à mão ou no computador?
Depende. O texto eu escrevo no computador, mas pego um caderno para cada narrativa e faço a pré-escrita. Eu rascunho muito, vou anotando ideias, botando linha cronológica, perfil de personagens. Eu gosto de sentir a palavra, a caneta, o papel.

O senhor é viciado em quê?
Eu sou viciado em café e em livros. 

Qual é o livro que está hoje em sua mesa de cabeceira?
“Mistério no centro histórico”, de Taylor Diniz. É que, na verdade, eu leio vários livros ao mesmo tempo. Estou relendo um livro de contos, “Feliz Ano Velho”. Tenho também um do John Nesbo e estou terminando o “Hereges”, do Leonardo Padura Fuentes.

Pelo quê deseja ser lembrado?
Nem sei se vou ser lembrado. Eu sou o único policial da história de quase 180 anos de Brigada a ter uma coluna fixa em um grande jornal, mas ninguém dá bola pra isso. Se eu puder deixar alguma coisa é sobre essa possibilidade de humanização, de ficarmos melhores com o livro, poder ler sem preconceito pra fugir desse mundo de coisas superficiais.

Como Patrono, como o senhor acha que será a feira? E o que a volta d’O Literal pode trazer de diferente?
Eu acho que faz toda a diferença. O Literal faz a feira pulsar de verdade. É como se houvesse um corpo com um coração de verdade, a feira é o corpo e O Literal é o coração, enviando sangue para todas as veias e artérias daquelas coisas que acontecem. Eu fico muito feliz que o projeto volte justamente no ano em que eu sou Patrono.

 

Mais informações sobre Oscar Bessi

 

A presença de Oscar Bessi no portal é um oferecimento de:

Copyright © msmidia.com






Confira nosso canal no


Vídeos em destaque

Carreira de Escritor

Escrevendo para redes sociais


Cursos de Escrita

Cursos de Escrita

Curso Online de
Formação de Escritores

Curso inédito e exclusivo para todo o Brasil, com aulas online semanais AO VIVO

Mais informações


Cursos de Escrita

Oficinas de escrita online

Os cursos online da Metamorfose Cursos aliam a flexibilidade de um curso online, que você faz no seu tempo, onde e quando puder, com a presença ativa do professor.

Mais informações