Nesta edição do Memorial, o Artistas Gaúchos reproduz
dois depoimentos do fotógrafo gaúcho Tonico Alvares. No primeiro
texto, o próprio Tonico Alvares narra a sua trajetória de vida
e profissional. No segundo, temos um depoimento a respeito de um dos últimos
shows de Bob Marley, em junho de 1980, em Estocolmo (Suécia), acompanhado
de algumas fotos captadas pela lente do fotógrafo, que estava presente
ao show e documentou tudo com sua câmera fotográfica. Os depoimentos
e as fotos de Tonico Alvares estão publicadas originalmente no seu site,
o http://www.leinstant.com.
Sou natural de Minas do Leão, Rio Grande do Sul, nascido no ano de 1953.
Pode se dizer que a minha iniciação no mundo da fotografia se
deu no consultório do meu pai, que ficava no Ed. Bragança, na
Rua da Praia, centro de Porto Alegre. O Dr. Ataliba Alvares, era radiologista,
e por volta de 1969, comecei a trabalhar com ele, revelando radiografias e abreugrafias
num pequeno laboratório. Nas horas vagas costumávamos fazer algumas
experiências, com imagens de folhas e conchas, e aos poucos, fui me aprofundando
nas técnicas do quarto escuro e na arte fotográfica. Em 72 ganhei
uma Cânon FTB, e as chaves da sala ao lado do consultório para
abrir meu primeiro estúdio, “A IMAGEM” , período em
que eu me especializei principalmente na produção de pôsteres
em alto contraste. Neste mesmo ano, comecei a trabalhar para o Diário
de Notícias, e com as imagens captadas para uma reportagem de capa intitulada
“Motim no Presídio”, ganhei o primeiro prêmio de fotografia
do Salão de Artes do Rio Grande do Sul. No ano seguinte, um trabalho
composto por fotografias minhas e diagramação do artista plástico
Carlos Atanásio, o Caiado, intitulado “Campo e Cidade”, se
classificou no mesmo Salão, para ser apresentado na Bienal de São
Paulo.
Não sei se a causa foram as saídas para produção
deste projeto, ou quem sabe as lembranças daquelas longas viagens de
minha infância, em que, junto com meus pais e 8 irmãos lotávamos
a Chevrolet Brasil da família, e viajávamos durante 7 dias, cruzando
o país até Sergipe, para visitarmos familiares. O fato é
que eu me sentia inquieto, vivia com sede por novos horizontes. Um desejo de
ver e viver novos lugares e diferentes culturas. Por esta época, eu comecei
uma relação de amor que atravessou décadas, com o litoral
catarinense e seus habitantes. Tenho o prazer de ter feito parte do grupo, que
em 1974, com o consentimento de seus donos, se estabeleceu nas terras de Dona
Eugênia e Seu Dorvino Rosa, se tornando os primeiros “forasteiros”
a desfrutarem daquela paradisíaca e ainda intocada Praia do Rosa , no
interior do município de Imbituba, Santa Catarina. Mais tarde, esta praia
se tornaria conhecida, no Brasil e no Mundo.
Em 1975, a idéia de ir mais longe, conhecer e fotografar o mundo, começou
a se tornar mais forte dentro de mim. Então, em agosto daquele ano, botei
a mochila nas costas, disse adeus para o laçador, e embarquei num avião
da VARIG com destino ao Rio de Janeiro, lá me despedi dos meus pais e
peguei um trem na Central rumo a São Paulo, de lá, em outro trem,
desci para Santos, e de táxi cheguei ao porto onde embarquei em um navio
do Loyd’s Brasileiro. Ainda me lembro da sensação de euforia,
misturada com um pouco de ansiedade, enquanto nos afastávamos lentamente
da costa brasileira. Eu ainda não tinha completado 22 anos, estava só,
com apenas algumas economias no bolso e sem um roteiro pré-estabelecido.
Mas estava realizando um sonho, quase uma necessidade, de botar o pé
na estrada, e ver o mundo com minha câmera no pescoço. Depois de
13 dias no mar, chegamos a Valência, Espanha. Ainda passei, por cidades
como Barcelona e Paris antes me estabelecer em Londres, onde estudei iluminação
e revelação de fotografia a cores na London Polytechnic School.
De lá colaborei, algumas vezes, com freelancer para o Jornal Zero Hora
e a Revista Veja.
No verão europeu de 1976, me transferi para Estocolmo, atrás
dos bem remunerados “summer jobs” suecos. Gostei do que vi e fui
ficando...só não consegui me adaptar muito ao inverno escandinavo.
Então em outubro de 1977, unindo o útil ao agradável, escapei
de mais um inverno e dei inicio a mais uma jornada. De avião fui até
a Grécia, onde descansei algum tempo, me preparando para uma grande aventura.
A difícil e gratificante, trilha “overland”, para o oriente,
também conhecida como trilha hippie, era um caminho mais ou menos repetido
pelos viajantes, que cruzava Turquia, Irã, Afeganistão, Paquistão
e Índia, em direção ao sul até as praias de Goa.
É claro que haviam também ramificações para diferentes
lugares, como o Nepal ou o sudoeste asiático. E foi atravessando a Turquia
e Irã, de ônibus ou em caminhões 4x4, (em alguns trechos
até mesmo a pé e a cavalo), que eu cheguei ao Afeganistão,
fiquei algum tempo conhecendo aquele país e ainda cruzei o Paquistão
para explorar a Índia, mais precisamente o estado do Rajastão,
antes de retornar a Suécia, na primavera do ano seguinte. Em 1978 apresentei,
na Kulturhuset de Estocolmo, a exposição “Afeganistão
- Estocolmo”, e comecei a desenvolver alguns projetos com o museu etnográfico
daquela cidade. No fim do ano fui para Índia dar inicio a um trabalho
de documentação daquele pais, em parceria com o fotografo indiano
Kim Morarji, com quem eu viajaria mais de 10.000 km no interior daquele país.
Sempre tendo a capital sueca como base, ainda visitaria muitos lugares, antes
de retornar a Porto Alegre em 1981, onde eu iria atuar por alguns anos no mercado
de moda e publicidade. Durante estes anos apresentei o documentário audiovisual
“Índia”, a exposição “Theatro São
Pedro”, sobre a reabertura deste verdadeiro templo da cultura de nossa
capital, e a mostra “Tonico Alvares fotografa Rui” . A constituinte
de 1988 me levou a Brasília e de volta ao foto-jornalismo. Mas em 1989,
mais uma vez em Porto Alegre, retomei os trabalhos publicitários e projetos
pessoais. Em 1992, apresentei a exposição “Paris 48 horas”.
De 1993 a 1995 atuei exclusivamente no jornal Zero-Hora, de onde sai para mergulhar
no projeto “Perfis Parlamentares”, da Assembléia Legislativa
do Rio Grande do Sul, editando livros sobre Flores da Cunha, Getulio Vargas,
Oswaldo Aranha e Assis Brasil. É bom lembrar ainda, que em 1994, a vida
me deu meu maior prêmio, minha filha Laura. Ainda nos anos 1990 eu faria
as exposições “Retratos de Cinema” e “Planeta
Atlântida”.
Em 2000 comecei a trabalhar na Câmara de Vereadores de Porto Alegre,
onde estou até hoje. E paralelo a isto, como a antecipar tudo de bom
que o novo milênio me traria, realizei um projeto que já algum
tempo eu desejava executar, a mostra “Elegância Gaudéria”,
uma espécie de pagamento de (como diz a canção) uma dívida
de amor e gratidão com meu estado natal.
Bob Marley & The Wailers.
O dia 17 de junho de 1980, foi um daqueles que a gente costuma chamar de inesquecíveis...
no final da tarde eu rumava para o Gröna Lund, um parque de Estocolmo,
para registrar o show que estava programado para logo mais, Bob Marley &
The Wailers.
Minha idéia inicial era fotografar aquele grupo de jamaicanos que havia
revolucionado o cenário musical mundial, e principalmente a figura do
seu mítico líder, um dos personagens mais marcantes da segunda
metade do século XX. Mas quando, momentos antes do show, eu me posicionei
entre o palco e a platéia, no espaço reservado para a imprensa,
comecei a perceber que o público que se aglomerava em minha frente era
como que a materialização de boa parte das mensagens daquele compositor.
Aquela pequena multidão, unia diferentes raças, tribos, gerações...
unia duas décadas, que os anos posteriores mostraram ser tão diferentes.
No meio destes devaneios o show começou... então a música
sedimentou esta comunhão, e eu tive certeza que alem de fotografar o
show em si, eu devia aproveitar a luz daquele teimoso sol da primavera escandinava,
que só aceita se pôr depois das 22h, para registrar também
a concretização, mesmo que fosse por um par de horas, daquela
poderosa mensagem que emanava pelos alto-falantes... “one love, one heart...”
Infelizmente, pouco mais de três meses depois a cidade de Pittsburgh,
EUA, assistiria ao encerramento da Uprising Tour, que seria a última
deste fantástico artista. A publicação deste material,
que permaneceu inédito por quase 30 anos é um tributo a este homem
e seu clamor, cada vez mais atual, por paz e união.
Tonico querido:
sou uma das suas primas citadas nas viagens a Aracaju
fiquei mto contente de lhe encontrar. bjs
yara
yara aragao costa, salvador bahia 17/03/2012 - 19:02
Gostei de conhecer aspectos da vida do artista,após ter visitado Rastros, na CCMQ neste 14/11. Jusseli
jusseli maria rocha, rio grande/RS 18/11/2011 - 18:45
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