Diversidade tomou conta do centro de Porto Alegre na marcha de abertura
do Fórum Social Mundial 2003
“Uma foto, Lilian”, pediu a moça. Sorridente, a uruguaia
Lilian Celiberti se posicionou junto a um grupo de mulheres que acompanhavam
um carro alegórico ostentando um enorme desenho de uma boca com os dizeres
“Sua boca é fundamental contra o fundamentalismo”. Um clique
e trinta anos depois do seqüestro dela e de seu companheiro Universindo
Diaz, em Porto Alegre, por agentes ligados à repressão da ditadura
militar vigente à época, a foto estava tirada. A jovem militante
de esquerda dos anos setenta agora é uma senhora de cabelos grisalhos,
mas ainda com a mesma disposição para participar da “Marcha
da Diversidade Contra a Guerra” que tomou conta das ruas centrais de Porto
Alegre a partir da 18 horas desta quinta-feira, na abertura da terceira edição
do Fórum Social Mundial (FSM). A chuva torrencial que caía desde
a madrugada acabou cessando perto do final da tarde.
Acusado por seus críticos de ser o foro do pensamento único,
a marcha teve a marca da diversidade de culturas, linguagens, religiões,
raças e, principalmente, de idéias. Em uma frente, por exemplo,
dirigentes do Partido dos Trabalhadores (PT) – entre eles, José
Genoíno, Aloísio Mercadante, Miguel Rossetto, Jaques Wagner, Olívio
Dutra, Humberto Costa, Eduardo Suplicy, Elvino Bohn Gass, Paulo Ferreira , Marta
Suplicy e Ivar Pavan – posavam para fotos, aplaudidos pelo público.
Um pouco mais atrás, porém, militantes do Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado (PSTU) não economizavam nas palavras de ordem
céticas em relação ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva: “Lula, eu quero ver o plebiscito contra a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas) acontecer”. Bandeiras de
Cuba, camisetas com a estampa do rosto do guerrilheiro Che Guevara e militantes
comunistas se misturavam a integrantes dos movimentos Religiões pela
Paz – Coalizão Ecumênica, Brahma Kumaris e Seicho-No-Ie e
fiéis da Igreja Episcopal Anglicana.
SOMOS TODOS IGUAIS
“Não existem povos eleitos, somos todos iguais”, dizia
o cartaz de um grupo de palestinos, seguido mais atrás por um entusiasmado
frevo pernambucano. “Uma outra Amazônia é possível”
era a palavra de ordem de um grupo ambientalista, acompanhada de protestos contra
a guerra (“Não à guerra: o próximo pode ser você”)
e de manifestações a favor da reforma agrária. “Eu
sou negra sim”, estampava a camiseta de uma militante.
Durante o percurso pela Avenida Borges de Medeiros, desde o Largo Glenio Peres
até o Anfiteatro Pôr-do-Sol, a diversidade foi o ponto de união.
Tal como na multicolorida bandeira do movimento gay, imitando as cores do arco-íris,
indígenas, feministas, defensores da conservação do meio
ambiente, integrantes de minorias étnicas e raciais, militantes negros,
palestinos, funcionários públicos, trabalhadores de diversas áreas,
artistas e estudantes se uniram para reafirmar que um outro mundo é possível,
a partir de um desenvolvimento ecologicamente sustentável e socialmente
justo. Se A Marcha da Diversidade contra a Guerra teve um pensamento único,
este foi o de que é necessário paz e mais solidariedade entre
os diferentes.
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