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Quichiligangues, de Sidnei Schneider
Carlos Lopes

Sidnei Schneider conserva uma clareza de expressão e um domínio dos instrumentos poéticos verdadeiramente únicos. Além disso – e talvez seja o determinante – sua solidariedade com os demais seres humanos e recusa a um egocentrismo estreito, vazio e, sobretudo, chato, faz dele um artista mais do que relevante.

Há quem fale muito do suposto divórcio, sublinhado por Hegel na poesia alemã de seu tempo, entre a ética e a estética. No entanto, não é no poema em si que esse divórcio pode ser superado, mas no encontro da poesia com a vida - eis uma lição intensamente presente no primeiro livro de Sidnei, Plano de Navegação (Dahmer, 1999), e, agora, em seu segundo livro, Quichiligangues (Dahmer, 2008), lançado na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre.

O que quer dizer este nome estranho? Sidnei não é poeta de deixar obscuridades a afastá-lo do leitor. Pelo contrário, vê no leitor o seu semelhante. Na última página, esclarece: Quichiligangue s.f. Insignificância, bagatela.

É, portanto, um poeta que não se contenta com o vocabulário de cada dia – onde as palavras acabam gastas em seu significado. Assim são as suas bagatelas, em que se sente, ao lê-las, aquilo que se chama prazer estético – o sinal da verdadeira obra de arte.

Alguém, parece que Flaubert, definiu a literatura como a luta contra o lugar-comum. Poderia ser uma conceituação precisa da poesia de Sidnei, onde jamais encontramos solução fácil para o poema – aquela em que o extremo exemplo é a caricatural rima de bosque com quiosque, mas que, em fórmulas menos ridículas, costumam infestar determinados livros de poesia.

Não é um poeta que tem aparente facilidade em fazer o poema. Pelo contrário, ele não concede espaço para o automático. Em cada linha o esforço do fazer é uma marca, um registro típico do seu poema.

Poderíamos apontar também como Sidnei se apropriou de determinadas conquistas da poesia moderna – Eliot, Pound, Rilke, Valery - sem resvalar para o solipsismo (o “eu sozinho”) que matou tantos dos poetas que seguiram essa vertente.

Porém, melhor será que o leitor comprove se estamos ou não exagerando. Em caso de dificuldade em encontrar o livro – a distribuição de livros no Brasil ainda não entrou no PAC do presidente Lula – basta pesquisar na internet.


* Carlos Lopes é jornalista, escritor e psiquiatra em São Paulo. Autor de “Cão”, poemas, Rio, 1968; “Jacques Monod e o determinismo”, ensaio, Rio, 1972; “Princípios gerais em psicoterapia”, Recife, 1980; “Noigandres é uma noz grande”, ensaio, Fortaleza, 1987; “A voz interior em José Alcides Pinto”, ensaio, Fortaleza, 1989; “Brasil, uma interpretação histórica”, São Paulo, 1998; “Desafios éticos atuais na psiquiatria”, Brasília, 2001.


10/08/2009

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Comentários:

Bem bacana o texto de Carlos Lopes. Quichiligangues é tudo o que está aí e muito mais!
Juliana Meira, Porto Alegre 15/08/2009 - 16:41
Sidnei é maior poeta gaúcho de todos os tempos, na minha opinião, claro.
Guilherme Bender, Jaraguá do Sul / SC 14/08/2009 - 19:34
Quichiligangues é um livro admirável. Ele não perde a amplitude da comunicação imediata com o leitor, como bem apontado na resenha. Além dessa aparente simplicidade, e muito mais importante, a meu ver, é a sofisticação dos textos, resultante de uma pesquisa que se embrenha lá nas raízes da poesia. Parece ter cumprido o conselho de Bashô: "Não imite os antigos, procure o que eles procuraram". Acho que é por aí.
Telma Scherer, Porto Alegre 14/08/2009 - 19:33
Interessante a resenha de Carlos Lopes, pois confirma o que penso sobre a obra do Sidnei. Fico desta maneira instigado a ler este trabalho que tanto me atiça.
Rafael Trombetta, Porto Alegre 14/08/2009 - 18:07

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