Um grupo de jovens tem seus destinos amarrados por uma série de acontecimentos que tendo como cenário a escola da cidade do interior em que vivem. O desejo de criação de um grêmio estudantil e a negativa da direção da escola levam o grupo de alunos e amigos a vingança: o roubo do sino da escola, que marcava as trocas de perÃodos, entrada e saÃda dos estudantes.
Ambientado nos anos 90 do século XX, Tudo o que fizemos, de Carlos André Moreira, é permeada pela sonoridade das bandas de rock nacional: Legião Urbana e Engenheiros do HavaÃ. As festas, as leituras, os sonhos e as angústias da geração de adolescentes percorrem todo o texto. As relações de amizade, as conversas animadas e as também sérias são o eixo de verossimilhança do texto.
A narração é intercalada pelas vozes das personagens: Sandro, Paula, Getúlio, Caio, Marcos e um narrador onisciente que marca o texto tecendo relações entre todos os outros.
Sandro é o protagonista, órfão de pai, ele tem de lidar com a saudade do pai, as dificuldades financeiras e a vida escolar cheia de pequenas mesquinharias. É apaixonado por Paula, a quem escreve sonetos (alvos da ironia de Caio).
Paula é a jovem que diferente das outras meninas, não sonha em casar-se de branco e com o grande amor da sua vida. O ceticismo se dá pela desastrosa relação com Caio.
Caio é o malandro. Filho de um dos professores da escola torna-se, ao longo dos anos, um rapaz bonito e arrogante. Sempre promovendo brincadeiras sem graça e constrangedoras.
Getúlio é o introspectivo aluno que chega ao meio do ano. A timidez torna-o amigo de Sandro. Órfão de pai e mãe e vive com avó, que está muito doente. É ele que rouba o sino. É preso e surrado pelo delegado, para que delate seus comparsas.
Marcos é também da turma, filho de um advogado e que lida com a triste história da morte de Luiz Henrique, o medo de Paula, a solidão de Sandro e a prisão de Getúlio.
Luiz Henrique é o desajustado, sempre se metendo em encrencas e brigas. Após diversas confusões (entre elas a fuga de um prostÃbulo) ele se declara a Caio, justificando sua homossexualidade como a necessidade de “tudo experimentar”. Suicida-se jogando a moto contra um muro durante um racha.
O romance é divido em duas partes: Somos quem podemos ser (frase de uma música dos Engenheiros do HavaÃ), que se divide em nove capÃtulos, que intercalam as visões das personagens com as datas e horas dos acontecimentos. E particularmente nesta parte as personagens têm capÃtulos com seus nomes. São descritas em seu cotidiano e modos de ser.
A segunda parte: Pais e Filhos (nome de uma música da Legião Urbana) divide-se em dezesseis capÃtulos em que o narrador passeia pelos pensamentos e divagações das personagens e principalmente pelos pensamentos de Sandro e a constante dor pela perda do pai.
No final temos um capÃtulo denominado de “Oh Crianças isso é só o fim”. Em que o desfecho é a soltura de Getúlio com a ajuda do pai de Marcos, a decadência de Caio, e a aproximação de Sandro e Paula.
Tudo o que fizemos é um romance de formação, segundo o texto que está na orelha do livro. Se pensarmos no que consiste este tipo de romance, podemos dizer que a afirmativa é válida. A descoberta de um “inevitável” mundo novo, onde medos, traumas, amores e diferentes crises de idéias, associam-se a construção do caráter de cada personagem.
Carlos André tece com cautela os destinos de suas personagens. Não deixa furos, nem coisas que não entendemos.
Há construções bem elaboradas, frases que ficam em nossa memória e misturam-se em nossas próprias lembranças. Seguindo a idéia das músicas de Renato Russo, que estão presentes na narrativa: temos todo o tempo do mundo. Pelo menos para sermos jovens.
MOREIRA, Carlos André. Tudo o que fizemos. Porto Alegre: Leitura XXI. 258p.
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