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Papo de Artista
O artista local nos grandes eventos de Porto Alegre
Nanni Rios
Quando se fala em grandes eventos artistico-culturais fora do eixo Rio-São Paulo, uma das cidades brasileiras mais lembradas é Porto Alegre. O porte de realizações como a Feira do Livro, a Bienal do Mercosul e o Porto Alegre Em Cena impressiona. Agitadores culturais de várias cidades do Brasil e até de outros países vêm pra cá todos os anos pra aprender como se faz tamanha façanha. Mas até que ponto toda esta badalação beneficia a atividade artistico-cultural local? A presença do artista gaúcho nos grandes eventos de Porto Alegre foi o tema do 12° Papo de Artista, realizado no dia 14/10, no Teatro de Arena.
Sônia Zanchetta, Marcelo Spalding, Zé Victor Castiel e Isabel de Castro
Para o debate, convidamos o ator Zé Victor Castiel, um dos organizadores do Porto Verão Alegre, Sônia Zanchetta, da Câmara do Livro e uma das organizadoras da Feira do Livro, e Isabel de Castro, curadora da Bienal B. O que estes eventos têm em comum é a forte presença de artistas locais em sua programação.
Paralela a Bienal do Mercosul, em 2007, foi realizada a primeira edição da Bienal B, com exposições de artistas locais que não se sentiam contemplados pela proposta do evento "oficial". A curadora da edição deste ano, Isabel Castro, avisa que não é preciso ser famoso ou prestigiado para participar da Bienal B. "Tem lugar pra todo mundo, dos mais experientes aos iniciantes. Há muitos bons artistas sem lugar pra expôr", disse. A intenção, segundo ela, é somar vivências e proporcionar ao público uma experiência mais diversa. A lição é conquistar o próprio espaço ao invés de esperar que alguém o faça por você.
Outra iniciativa que surgiu da necessidade de aprender a pescar na falta de alguém que dê o peixe, foi o Porto Verão Alegre, idealizado pelo ator Zé Victor Castiel. Ele conta que tudo começou com uma inquietação bem simples: se, no verão, centenas de milhares de portoalegrenses saem da cidade em direção às praias, o que fazem para se divertir os mais de um milhão que ficam? O evento que começou como algo despretensioso entre amigos já faz parte do calendário cultural da cidade e caminha para a 11° edição. Hoje, o Porto Verão Alegre também faz o contraponto com outro grande evento que parece priorizar produções de fora, o Porto Alegre Em Cena.
Para Zé Victor, o Porto Verão Alegre e o Porto Alegre Em Cena têm funções diferentes no cenário artístico e teatral local. "O Porto Alegre Em Cena não é pra gente. Deveríamos ser bons anfitriões e trocar figurinha com quem vem de fora", alertou. E ao contrário do Poa Em Cena, o Porto Verão Alegre aceita somente grupos e artistas gaúchos. "É a oportunidade da gente se exibir para os olheiros da Globo que eu convido todo ano pra vir", disse.
Outro evento que abre inúmeras oportunidades para os seus participantes é a Feira do Livro de Porto Alegre. A maior feira de livros a céu aberto da América Latina é, entre os três exemplos de grandes eventos tratados no Papo de Artista, o mais inclusivo no que diz respeito ao espaço dos artistas locais na programação. Sônia Zanchetta, uma das organizadoras, disse que a cada ano mais escritores independentes ganham espaço para mostrar seu trabalho na feira. No ano passado, por exemplo, dos 839 livros lançados, 120 eram independentes.
Além disso, a Câmara do Livro recebe muitos pedidos de ajuda por parte de escritores que querem começar a publicar. Segundo Sônia, os lançamentos independentes costumam apresentar graves problemas de distribuição e edição. Muitas vezes, o motivo é a falta de experiência. Nestes casos, a Câmara pode orientá-los para que o material saia bem finalizado e seja comercializado de forma distribuída e rentável. "As dificuldades são inúmeras. Mas quem procura a Câmara do Livro recebe orientação para evitar os erros mais comuns", disse.
Pra concluir, penso que a falta de interesse dos grandes eventos em abarcar o trabalho de artistas locais deve lhes servir de estímulo para que procurem o seu próprio espaço por caminhos alternativos. A Bienal B e o Porto Verão Alegre dão o exemplo de como isso é possível.
E vocês, o que pensam sobre isso?
Para saber mais sobre o que foi conversado no 12° Papo de Artista, dá uma olhada no twitter (twitter.com/artistasgauchos). Também dá pra buscar pela tag #papodeartista. Tá tudo lá.
22/10/2009
Comentários:
O que culturalmente mais encanta em Porto Alegre, além do talento, é a garra dos trabalhadores da área artÃstica. E o Papo de Artista é uma iniciativa louvável de discutir o que se faz no setor.E como é necessário trocar experiências e ideias para crescer... Gente de cultura é inquieta por natureza, graças a Deus. Não fosse assim, não haveria tanta coisa boa sendo produzida na cidade. Orgulho-me de morar numa cidade em que os criadores culturais superam todos os obstáculos e demonstram como sabem se expressar, em todos os setores da vida cultural. É só circular pelos seus espaços para perceber quanto é grandiosa e persistente a luta dos seus trabalhadores. Salve todos eles, e não desistam. O resultado do esforço é o grande troféu que podem exibir, com todo o garbo.
Roberto Antunes Fleck, Porto Alegre - RS 28/10/2009 - 17:36
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Nanni Rios
Nanni Rios é taurina com ascendente em escorpião e lua em gêmeos. Apaixonada por colaboração e compartilhamento de conteúdos na rede, é entusiasta do software livre, das redes sociais e do jornalismo colaborativo. É editora do Jornal de Debates e idealizadora do portal colaborativo sobre artes e cultura Parangolé. Casada e mãe de uma jabuti (que mora com os avós). Arteira, videomaker, assessora de encrenca, nerd, boêmia, designer e jornalista nas horas vagas.
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