Todo mundo tem seus mistérios! Alguns são aparentes e vêm à tona facilmente. Outros estão escondidos lá no fundo mais fundo. Uns são simples, outros são embolados. E nem sempre a gente é capaz de enxergar os caminhos e as pontas dos fios, para começar a puxar. Mas amigos podem ajudar!
Esse livro trata da amizade entre dois meninos, Pedro e Paulo. Pedro não sabe lidar com as coisas que o incomodam (que coçam!), que o fazem rir, chorar na cama, dormir cansado, isolar-se dos outros, ficar duro como estátua de pedra cada vez que tem que enfrentar as dificuldades e resolver problemas. Mas, de férias da escola, conhece, na praça, Paulo, que está sempre em cima de uma árvore. Paulo é cego e tem outra maneira de ver o mundo. Os dois ficam amigos, ajudam-se mutuamente a encontrarem as pontas emboladas de seus sentimentos, sofrimentos e a transformá-las em novelos, redondos, macios, amigavelmente enrolados. Vão aprendendo um sobre o outro e sobre o mundo. Vão se misturando, um sendo guia do outro, preparando o laço e a despedida.
Pedro é quem conta a história, que está repleta de diálogos, com um tom poético, com uma abundância de imagens atraentes e com ritmo, por vezes, de poesia em versos. O autor se vale de algumas boas metáforas: a do novelo, a da estátua de pedra, a do caramujo: Paulo Caramujo e Pedro Pedra saem de suas solidões e abandonam suas defesas para misturarem-se!
Há na história um belo contraponto: a estátua da praça. Na medida em que os meninos vão se revelando, vão se entendendo, vão desembolando seus fios e trançando suas vidas em aventuras partilhadas, vão também se distanciando da estátua.
Outra bela metáfora: ver as coisas do alto. Paulo encarapitado em cima da árvore, vê as coisas de outra forma e convida Pedro a subir... Olhar de cima pode ajudar a ver de outro modo, mudar o foco, propiciar uma visão mais geral!
A divisão em pequenos capítulos é um bom recurso para quebrar a linearidade tão comum nos textos infantis. Neste livro, os títulos dividem a história e reforçam a passagem do tempo. Vejamos: Todos os dias; As noites; Um dia; Outra noite; Outro dia; Mais uma noite; A tarde de sol quente do dia depois do outro; O céu nublado no dia depois do outro; etc. Os títulos são vagos, são retóricos, não funcionam nem como convite nem como síntese da história, mas podem sinalizar uma leitura mais profunda: a idéia de que é preciso tempo para se resolver as coisas, para refletir sobre as mudanças, as descobertas, para assimilar o novo.
As ilustrações são um show! Misturam o charme dos livros antigos, feitos em nanquim, colagens, muitas linhas, num traçado moderno, detalhes de fundo em cores, desenhos predominantemente em preto e branco, mas um branco envelhecido... tão simbólico para se mexer no conceito de amizade!
E que Hermes – o escritor - e Renan – o ilustrador - criem laços! E muitos livros!
BERNARDI JÚNIOR, Hermes. O emaranhado da maçaroca. Ilustrações de Renan Santos. São Paulo, Larousse do Brasil, 2009. 32p.
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