Para encontrar seu par perfeito é preciso procurar, é verdade. Mas para formar esse par é preciso abrir mão da liberdade?
A história é a muito conhecida “A princesa e o grão de ervilha”, de Hans Christian Andersen. A autora reconta-a, de maneira inovadora e bem humorada!
O príncipe, solitário e triste, quer se casar com moça sensível e delicada como uma rosa. O rei e a rainha mandam procurar, colocam anúncio em jornais, as candidatas se apresentam e três bruxos fazem o teste para saber quem escolher: dormir no castelo, em cama com vários colchões, cobertores, lençóis bordados e por baixo, uma pedrinha bicuda e lascada. Quem sentir a pedrinha será a escolhida. Depois de várias tentativas sem sucesso, aparece a pobre e esfarrapada Ervilina da Lima Cunha de Andrada. A rainha troca a pedrinha por uma ervilha, e o que acontece em seguida, renova o final da velha história.
O texto tem uma estrutura de poema, dividido em versos, estrofes, e com rimas. O ritmo, nesta reconstrução, é elemento especial. A brincadeira vem anunciada no título, “Ervilina e o princês”, chamando atenção para a dupla de personagens e causando já estranhamento, pelo uso da palavra “princês”.
O narrador anuncia que vai contar a história “do seu jeito”, um jeito amalucado, previsto no subtítulo “deu a louca em Ervilina”. E justificado pelo ditado popular: “quem conta um conto aumenta um ponto”.
Os elementos são inusitados, do tipo: um “rei irreal”, um “castelo de andorinhas que cantavam em si bemol”, uma “carruagem d´água, toda feita de cascatas”, etc. A autora é mestra em inventar palavras e sua característica mais marcante é brincar com a linguagem, o vocabulário, as formas textuais. Ela sabe como ninguém sustentar o poético no humor, e produzir belezas do tipo: “passarinhos dourados e rouxinados” num castelo que musicava.
Sua versão modifica a conhecida história, inova o conto clássico, mexe nos papéis instituídos pelos contos de fadas e aponta para uma solução moderna, libertária, sem comodismo e revolucionária!
Sylvia Orthof é a rainha do humor e das invencionices do mais alto nível na literatura infantil brasileira. Sua inquietude e “modernura” (modernidade + poesia + ternura!) colocam-na em lugar de destaque, com mais de 100 títulos publicados.
As ilustrações de Laura Castilho são impressionantes. O livro é todo feito com recortes de papéis e colagens: cenários, personagens, relevos, detalhes. O colorido intenso, os fundos contrastantes, a cor única de cada página dupla, reforçam a dinâmica da história.
A nova edição não tenta esconder as edições anteriores, pelo contrário, reproduz ao final do livro, a primeira edição, de 1986 (de outra editora), página a página. Uma verdadeira glória para a História deste livro!
ORTHOF, Sylvia. Ervilina e o princês ou Deu a louca em Ervilina. Ilustrações de Laura Castilhos. Porto Alegre, Editora Projeto, 2009. 48p.
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