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Literatura

Da atualidade de Lupicínio Rodrigues
Ricardo Silvestrin

Sempre tem alguém resgatando Lupicínio Rodrigues. Em texto de 1967, o genial poeta Augusto de Campos falava que Lupi, depois de um período de grande sucesso, andava esquecido. Relata que veio a Porto Alegre para entrevistá-lo. O encontro foi no Clube dos Cozinheiros, um restaurante administrado pelo cantor Rubens Santos. Estavam com Augusto os poetas concretos Haroldo de Campos e Décio Pignatari. Só pelo interesse desses três que estão entre os mais cultos e inventivos escritores brasileiros, já dá para ver a importância da obra do Lupi. E ele aqui, em Porto Alegre, discreto, cantando à capela no bar do seu grande e talentoso amigo. Augusto conta que ouviu muitas canções inéditas naquela noite. Depois do bar fechar, Lupicínio soltou o gogó e mandou ver sem acompanhamento nenhum.

Em texto de 1974, Augusto fala que, para sua alegria, o quadro de esquecimento foi se alterando. Em 71, João Gilberto cantou na TV “Quem há de dizer”, do Lupi. Em 72, Caetano cantou em show “Volta”. Em 73, “Nervos de Aço”. Gal gravou “Volta”. Macalé cantou “Um favor” e “Ela disse-me assim”. Paulinho da Viola arrasou em linda interpretação de “Nervos de Aço”.

Anos depois, a Bethânia, dramática: “e aí, eu comecei a cometer loucuras/era um verdadeiro inferno, uma tortura/o que eu sofria por aquele amor”. Tem uma gravação clássica de TV, em preto e branco, com Lupicínio cantando. Sua interpretação calma, com voz baixa, sem gritaria, contrasta e acentua a força expressiva do seu texto. A frieza do seu canto torna mais crua cada palavra. Há um canto-falado em alguns momentos, como quem conversa: “eu gostei tanto/tanto quando me contaram/que lhe encontraram bebendo e chorando na mesa de um bar/e que quando os amigos do peito por mim perguntaram/um soluço cortou sua voz, não lhe deixou falar/eu gostei tanto/tanto quando me contaram/que tive mesmo que fazer esforço pra ninguém notar”. Como no poema de Drummond: “algumas palavras duras/em voz mansa, te golpearam”.

Para revelar a agressividade dessa saudável “Vingança”, fiz um arranjo punk e cantava essa música no repertório da banda de rock Os Ladinos, que tive há alguns anos. O backing cantava “Vingança, vingança, vingança”, e eu seguia “eu quero mais nada/só vingança, vingança, vingança aos santos clamar/você há de rolar como as pedras que rolam na estrada/sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar!”. Era um arranjo Sex Pistols, Ramones. Arnaldo Antunes também fez um arranjo de rock para “Judiaria”. Sublinha com o canto roqueiro a força e a crueza da letra: “agora você vai ouvir aquilo que merece”. E a seguir um verso genial e profundamente irônico: “as coisas ficam muito boas quando a gente esquece”. E segue: “essas palavras que estou lhe falando/têm uma verdade pura, nua e crua/eu estou lhe mostrando a porta da rua/pra que você saia sem eu lhe bater./já chega o tempo em que eu fiquei sozinho/que eu fiquei sofrendo, que eu fiquei chorando/agora quando eu estou melhorando/você me aparece pra me aborrecer”.

Um coturno e um cabelo moicano cairiam bem no Lupi.


20/01/2008

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  Ricardo Silvestrin

Ricardo Silvestrin nasceu em Porto Alegre, 1963. Formado em Letras pela UFRGS, é poeta, com diversos livros publicados, e músico integrante dos poETs.

ricardo.silvestrin@globo.com
www.ricardosilvestrin.com.br


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