É uma pena que a censura alemã tenha impedido que Frank Wedekind, autor de “O despertar da primavera”, visse sua obra-prima encenada no século XIX. Muito a frente do seu tempo, a história original só pôde ser montada na Inglaterra, em 1974, 83 anos após ter sido escrita. Polêmica, foi acusada de estimular os jovens ao suicídio e à prostituição. Pensando bem, talvez o enredo fosse mesmo incompatível com uma sociedade patriarcal, regida por valores e crenças retrógrados. “O despertar” conta a história de um grupo recém iniciado na adolescência, que sofre com culpa, dilemas e dúvidas gerados por uma atmosfera de professores e pais repressores, violentos ou simplesmente despreparados para lidar com uma juventude inquieta e questionadora.
A peça, com direção de Zé Adão Barbosa, estreou no Teatro São Pedro, no dia 02 de outubro, e estará em cartaz no Teatro Renascença dos dias 05 a 07 de novembro. Ao longo da trama, nos deparamos com Melchior (Tiago Dornelles), um garoto inteligente, determinado e proveniente de família rica e Wendla (Natália Karam), uma menina sonhadora e ingênua. Nesse círculo de amigos também encontramos Moritz, o melhor amigo de Melchior, interpretado com excelência por Guilherme Zanella. Inseguro e inquieto, o rapaz começa a sonhar com mulheres, tirando sua tranqüilidade e o desviando ainda mais dos estudos necessários e cobrados veementemente pelo pai. Martha (Isabella Guimarães) também é uma personagem que sofre com problemas dentro de casa, tendo que tolerar os abusos de pais violentos e religiosos que a obrigavam a usar sempre o cabelo preso.
Além dos protagonistas, vemos ainda outros adolescentes que lidam com assuntos sobre a descoberta da sexualidade, homossexualismo e incesto. No momento em que o Melchior e Wendla se deparam eles próprios com o desejo crescente entre os dois, os jovens são obrigados a confrontar algo que ele só conhecia dos livros e ela nunca havia ouvido falar: o sexo. O tabu dentro da casa de Wendla fica explícito na ótima cena em que ela questiona a mãe sobre a cegonha e termina com a velha admitindo que as mulheres ficam, sim, grávidas pelos homens, mas somente quando são casadas e os amam demasiadamente. Enquanto isso, vemos um Moritz atormentado pelo péssimo boletim, o que o faz armar um plano para fugir de casa. Ele encontra-se, por acaso, com a boêmia Ilse, uma jovem que havia largado a escola e agora vivia peregrinando pelas casas de amigos, ignorando os maldizeres e boatos ao seu respeito. Ela é a personificação da liberdade tão almejada - e ao mesmo tempo tão reprimida - por aqueles jovens. Ilse é, talvez, a representação da mensagem que Wedekind tentou passar com o seu trabalho: o grito de alvedrio da juventude, considerado tão erroneamente pela sociedade como subversivo, transgressor e corrompido, sendo algo apenas natural, proveniente das angústias e do idealismo existentes dentro de todos nós enquanto seres humanos.
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