Definir arte e literatura é muito complexo. Aí estão envolvidas questões filosóficas, estéticas, culturais e sociais. Se é boa ou não, dependerá muito mais da forma do objeto ou da escrita, que do próprio conteúdo.
Então mudando o substantivo literatura por literariedade percebemos melhor, o maior ou menor grau de valor nos textos, independente do gênero, veículo em que são publicados e do contexto em que se encontram. Todavia, é certo que literatura, grosso modo: “a arte da palavra”, não é livro didático, panfleto político, jornalismo, artigo científico, opinião, publicidade.
Mas o que é um bom texto literário? Em primeiro lugar é necessário saber que ele não se confunde com conteúdo, apesar dele também ser importante, assim como o objetivo, o público e a forma. Esta sim, o ponto crucial. Estudos sobre a forma, ou estética, são milenares e tratam da natureza do belo e dos fundamentos da arte.
Por forma entende-se toda a técnica de criação utilizada num texto, inclusive as palavras escolhidas, as construções sintáticas, as relações de sentido, as metáforas, as figuras de linguagem, o ritmo, a rima... Naturalmente a forma e o conteúdo devem estar ligados, assim como a forma condicionada ao objetivo do texto e ao público a que ele se destina.
Quanto à crônica, em especial, aprecio muito a definição de Moacyr Scliar: "Crônica é a janela pela qual a literatura contempla o cotidiano”. Existe algo mais poético que o simples desenrolar da vida?
A crônica, para além de ser um texto fluido, treina a linguagem da sedução desde o título até a última linha. É preciso construir a frase e pensar o texto tanto com critérios estéticos quanto com lógica, harmonia, melodia, caso contrário, o leitor abandonará a leitura no primeiro parágrafo. Ademais, é preciso manter a rotina da escrita, porque a crônica tem prazo, tem hora. Ela cobra criatividade, capacidade de observação, informação. É preciso estar atento ao mundo e as pessoas e, ainda, ser breve, conciso.
Então, quando a inspiração faltar – e ela, por vezes, haverá de faltar – é necessário recorrer aos vários tipos de crônicas (conto, efeméride, anedótica, prosa poética, resenha...) e, principalmente, observar com mais profundidade a alma dos fatos, das pessoas, dos acontecimentos. Elas sempre têm muito a nos dizer.
DARIELY DE BARROS GONÇALVES, natural de Porto Alegre, RS, residente em Cachoeira do Sul, RS; advogada, bacharel em Filosofia; colunista do Jornal do Povo de Cachoeira do Sul, RS; membro de algumas academias literárias e associações culturais; possui mais de 250 textos publicados em jornais, revistas literárias, e-books, coletâneas e antologias, inclusive internacionais; detentora de alguns prêmios, o mais recente “Menção Honrosa” na Feira do Livro de Lisboa com a crônica: “Viajar é Trocar de Pele”.
05/04/2022
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