O que a jovem FabÃola, a acompanhada Taciana e as senhoras do Projeto Muito Prazer, destinado a mulheres de mais de 40 anos, têm em comum? O ponto G. Sim, o ponto G, aquela pequena área feminina localizada atrás do osso púbico, perto do canal da uretra e acessÃveis através da parede anterior da vagina, segundo definição enciclopédica.
Muito mais divertida e abrangente é a definição que Patsy Cecato e HeloÃsa Migliavacca inventam para o tal ponto G na quase debutante “Se meu ponto G falasse”, presença constante nos Porto Verões. Através de esquetes divertidas, debochadas e desbocadas, por que não?, as duas mulheres começam falando dos homens, revelam detalhes Ãntimos e desejos sexuais reprimidos para tocar cena a cena em alguns dos dilemas da mulher moderna, como a exigência da eterna juventude, a necessidade de conciliar vida profissional e pessoal e a sempre difÃcil tarefa de recomeçar.
Talvez seja essa profundidade escondida no riso fácil do texto de Patsy, HeloÃsa e Julio Conte que explique a real satisfação do público, formado por homens, mulheres, casais, solteiros, jovens, nem tão jovens, nada jovens. FabÃola, estudante de 17 anos, decerto uma aprendiz diante do cardápio pornográfico apresentado na peça, não esconde o sorriso e confessa ter se identificado em muitos momentos. Assim como o casal Taciana e Marcos, namorados recentes que talvez do palco tirem lições que os levem adiante, até um dia 27 de setembro... Mas foi o entusiasmo de um grupo de senhoras de Alvorada, que se aglomerava na entrada da AMRIGS para uma foto, que mais chamou a atenção.
Participantes do Projeto Muito Prazer, da ONG Espaço Multidisciplinar Bem-me-QUERO, destinada a mulheres de mais de 40 anos, pareciam à vontade e nada chocadas com as verdades e termos crus utilizados na peça. Raquel Alifredi Paulachi, psicóloga e coordenadora do grupo, acredita que esse tratamento sem muitos rodeios ou melindres é o ponto alto da peça, que faz o público se sentir à vontade diante de um tema transformado em tabu, a sexualidade. Para a psicóloga, “enquanto o assunto sexualidade for tratado como tabu, algo feio, de forma até mesmo infatilizada, o inverso também acontecerá: sexualidade humana banalizada e exposta a comportamentos de risco”.
Raquel também revelou um aspecto interessante, quase educativo que fez o grupo de mulheres se deslocar de Alvorada à AMRIGS: “uma das justificativas para acontecer esse projeto da ONG é o alto Ãndice de mulheres acima de 40 anos contaminadas pelo HIV. Estamos vivendo a era do Viagra, onde o homem consegue explorar mais sua virilidade e muitas vezes acaba acontecendo a “pulada de cerca”, colocando em risco de contaminação esse sujeito e sua esposa. Por outro lado, mulheres com essa faixa de idade tiveram enormes falhas na sua educação, muitas vezes uma educação repressora, sem comunicação, ainda mais para se falar em sexualidade”.
De fato, é interessante como podemos ficar chocados com uma mulher tão distinta como a Patsy falando “puta”, outra não menos madura como a HeloÃsa mostrando calcinha e sutiã, ambas encenando cenas de penetração, felação ou masturbação. E nos chocamos porque nossa mÃdia, ao mesmo tempo que não hesita em exibir cenas sensualizadas na novela das nove ou corpos esculturais confinados numa casa, esconde palavrões com “pis” e resume educação sexual a “use camisinha”, ignorando as diversas facetas de uma geração perdida entre a liberdade de valores e os riscos sanitários.
Já a peça, dando voz ao ponto G, o ponto misterioso e sem censura, dispensa as máscaras e silêncios e revela também para os homens que para as mulheres sexo é muito mais que orgasmo, muito mais que ponto G, mas também é orgasmo e ponto G, seja para a jovem FabÃola, para a acompanhada Taciana, para as senhoras do Projeto Muito Prazer ou para as distintas Patsy e HeloÃsa.
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